José Simão estava certo, o Brasil é o país da piada pronta. Quem leu o Estadão do último sábado, ficou sabendo que a Associação Nacional de Livrarias planeja enviar cartas, esta semana, para a presidente, a ministra da Cultura e entidades do livro, com uma lista de pedidos para restringir a venda de livros digitais no Brasil.
Bicho-papão digital
(…) A Associação Nacional de Livrarias, que representa as independentes, já se articulava para mandar carta em que expõe alguns receios com relação ao livro digital para Dilma Rousseff, Marta Suplicy e entidades do livro. (…) Entre as sugestões, a de que a diferença de preço entre e-book e livro físico seja de até 30%. E no caso da editora que vende diretamente ao consumidor, que o desconto não exceda 5%.
Faltou apenas incluir Papai Noel, entre os destinatários.
Quanto mais as pequenas livrarias esperarem que os outros resolvam seus próprios problemas, pior será para elas. Esperar que o Papai Noel (ou a Dilma) façam uma mágica para proteger os livreiros, é muito mais nocivo que a competição da Amazon, Google, Apple… o Governo Federal está muito mais preocupado com a estagnação do crescimento e a série interminável de escândalos, do que com os impactos da tecnologia sobre o mercado do livro. Tanto que o Ministério da Educação mandou uma funcionária de 3º ou 4º escalão ao III Congresso do Livro Digital, para fazer propostas absurdas aos editores.
Nestas últimas semanas de 2012, a situação das livrarias é a seguinte: água na altura das canelas. Ainda há tempo para se inserir no novo mercado, buscar uma solução, nos moldes internacionais ou de outra forma. Só que a água, que até agora subiu bem devagar, vai subir muito mais rápido em 2013. E quando a água estiver na altura do pescoço, vai ser muito mais difícil encontrar uma saída.
O primeiro passo deveria ser, o quanto antes, adotar uma nova postura. É melhor encarar de frente a mudança tecnológica e se adaptar o mais rápido possível. Esse deveria ser o foco. Uma abordagem prática, para buscar soluções que não dependam dos outros, especialmente do governo. Sem pensar que o “novo” é sinônimo de “problema”. Há exemplos de outras associações de livreiros. que encararam o mercado digital com objetividade e procuraram se inserir de algum modo. Por que a ANL não se inspira na American Booksellers Association, que fez acordo com a Kobo, nos EUA, quase nos mesmos moldes que a Livraria Cultura, para inúmeras livrarias independentes? Ou, ainda, como fez a Australian Publishers Association, com o mesmo objetivo, na parceria com a The Copia? Por sinal, a Copia oferece desde novembro o mesmo serviço para as livrarias brasileiras.
Além disso, em um país como o Brasil, onde as regulações são falhas, propostas de controle de preços como essa, se prosperassem, teriam tudo para prejudicar os consumidores. Cartelização, restrição de promoções e concorrência… e uma conta mais cara na hora de pagar por um livro. É um caminho que só irá encarecer ainda mais o livro, digital ou impresso. Quem define que um livro digital deve custar 30% menos que um impresso? Esse cálculo não é absoluto. E certamente é viável fazer um preço menor.
O digital está fazendo surgir novos modelos de negócio, em que autores e editoras podem se comunicar diretamente com consumidores, eliminando intermediários e – por que não? – vender diretamente seus livros digitais. É uma nova realidade, proporcionada por uma nova tecnologia. Pedir legislações e regulações anacrônicas, que tentem retardar avanços tecnológicos, é como enxugar gelo. Esse tipo de pedido, Papai Noel não atende.
Fonte: Babel – Estadão
É um pensamento que reflete a atual postura dessas pequenas livrarias frente às mudanças de mercado. É como querer fazer um tipo de reserva de mercado ao invés de aproveitar as mudanças que estão ocorrendo.
Eu posso imaginar o "desespero" de alguns desses donos de livrarias, é o mesmo que ocorreu com os "copiadores" na época de Gutemberg. Poderiam aproveitar as oportunidades que estão surgindo, mas ao invés disso querem tabelar preços, pois essa é a forma com que sempre trabalharam.
Olha, sobre um teto ou um piso para o desconto de livros, é preciso pensar algumas coisas. Não sei exatamente qual a melhor solução, nem Papai Noel, nem a falácia acima de dizer que a ANL deseja um cartel. A primeira é que os livros ou ebooks não são uma mercadoria qualquer, têm papel fundamental na formação e desenvolvimento cultural de uma sociedade. Conforme vários estudos sérios no Brasil e afora, sem um mínimo de regulamentação as pequenas e médias livrarias ou as chamadas independentes são canibalizadas, é impossível sobreviver quando o seu fornecedor, no caso as editoras, dão um desconto impossível de você varejista concorrer com seu próprio fornecedor. Fora que as grandes redes detém um poder financeiro que é impossível concorrer como pequena livraria. É a grande concorrência com grande público que faz cair o preço, e é a existência de uma "grande rede" de livrarias independentes que proporciona isso, além do fato de que são elas que proporcionam a pluralidade cultural. Isto é um assunto tão sério que em alguns países é sim assunto de regulamentação estatal, não como reserva de mercado, mas como equalizador de forças. Por que no final, ficando somente as grandes, elas vão realmente cobrar o valor que quiserem, e como já ocorreu em outros lugares, após uma diminuição artificial dos preços de livros e a eliminação dos pequenos negócios, o preço sobe a um valor superior. Quem perde no fim não é só o cliente como consumidor, neste caso, quem perde é a sociedade e a produção cultural. O buraco é mais embaixo.
Bem colocado, Afonso. Vale lutar
William Soldera, demora mesmo para carregar os comentários de facebook do site deles…
Cada uma que tem nesse país…
Piada pronta, no mínimo!
Enquanto vendedores acharem que vendem papel em vez de livros, cd's em vez de música, dvd's em vez de filmes etc., ou seja, acharem que vendem formato em vez de conteúdo, vão ficar estagnados ou vão fechar as portas.
Os independentes estão preocupados com a venda de livros pela internet?
Simples, vendam também (físico e digital), montem um site e quem comprar recebe no mesmo dia ou no dia seguinte de um livreiro local associado. Sozinhos vocês são irrelevantes, juntos podem concorrer e se manter no mercado.
Moro em Manaus e porque preciso que um livro venha de, sei lá, Uberlândia pra mim? Porque não poderia me ser entregue por uma livraria local que o tenha em estoque?
Essas mentes medievais merecem a falência, e não é preciso ser nenhum vidente para saber que é isso que acabará acontecendo.
Esse é o problema do Brasil: O povo é orgulhoso demais para aceitar novas tendências. Em vez disso, se opõe e luta contra. É um anti-americanismo hipócrita. Depois que até no mais pobre país da Africa os eBooks estiverem reinando e os livros de papel se tornarem obsoletos, com tiragens insignificantes para preencher a teimosia de indivídios da terceira idade, aí sim o brasileiro começará a aceitar e a entrar na onda, por isso que aqui tudo chega por último.
Desistam desse país. Aprendam inglês e sejam felizes. Quer seja você um escritor ou um autor de cursos, se você fizer o mesmo em inglês, vai ganhar muito mais. A competição é enorme, mas sempre há espaço para quem é bom.
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