@author, redes sociais e o “sucesso” – artigo


Revolução E-book

A notícia do teste que a Amazon está fazendo quanto à viabilidade / interesse do contato direto entre leitor e escritor via Kindle e outras matérias que tenho lido no Autor 2.0 me fizeram refletir um pouco mais sobre esse momento que vivem(os) os escritores – publicados ou não; independentes ou não. E tenhamos em vista que, para efeito destas divagações, a “categoria” escritor pode abranger uma ampla gama de espécimes – incluindo os que se autodenominam e os que são efetivamente reconhecidos como tal.

Parece que os dilemas do momento apontam para decisões cruciais como: publicar em papel ou digital, interagir pelas mídias sociais com os (potenciais) leitores ou usar o escasso tempo (em geral escritores, exceto os consagrados ou muito espartanos, não vivem dos ganhos de sua escrita) que sobra da jornada de trabalho, trânsito, más notícias e das divagações pela web para produzir. Quase tudo que tenho lido coloca o escritor em uma encruzilhada de direções opostas, como se abraçar um caminho automaticamente aniquilasse o outro.

Para além das soluções pragmáticas do caminho “a” ou “z”, sou adepta da lucidez. Penso que, independente do meio (papel ou bytes) adotado para publicar há que se ter pés no chão, mesmo mantendo a vontade no céu. É preciso manter os olhos muito limpos para enxergar que a disponibilidade de ferramentas com alto potencial de multiplicação como a publicação em blogs e o surgimento de serviços para a publicação independente (que permitem a venda com um número menor de intermediários e sem as dificuldades de estoque e logística) não são uma panacéia capaz de anular os outros termos da equação nada linear que leva um ilustre desconhecido com pendores para redação a ser um grande sucesso de crítica e/ou de vendas.

Não houve milagre nesse caminho nem mesmo para Paulo Coelho. Seus livros não estão na minha prateleira nem no meu Kindle, mas seu sucesso de público e vendas mundo afora não permite ignorá-lo, tampouco deixar de reconhecer que houve muito trabalho (não só dele, importante lembrar) e um caminho longo foi percorrido até que ele ocupasse as listas de mais vendidos (que não é necessariamente o desejo de todo escritor).

Não criemos a ilusão de que “todo trabalho será recompensado”, pois sabemos que sempre ocorreu de se ignorarem talentos para os quais, num dado momento, não houve espaço no mercado editorial. Alguns chegaram a emergir para a posteridade, viraram clássicos, mas talvez nem todos e muitos só depois da morte (hoje em dia alguém tem paciência para sequer pensar nisso?). Quem nos prova que não houve outros Tchekhov que não chegaram nunca a ser “descobertos”?

A publicação via editora também não é garantia de resultado, pois editores muitas vezes arriscam ao publicar um iniciante e podem cometer equívocos de avaliação ou simplesmente dar azar e não colher as vendas imaginadas. Mas no fim das contas, o que me veio à mente quando li essa matéria sobre o problema do “excesso” de títulos que, no caso das impressões é uma questão física e de custos, foi uma comparação do mercado editorial (pensei em literatura, mais especificamente, mas acho que o raciocínio se aplica às publicações no geral) com ecossistemas naturais. A diversidade, em ambos os casos é salutar, imprescindível até. A competição por luz, espaço e alimento das espécies animais e vegetais pode ser equiparada à briga por leitores, expositores nas livrarias e remuneração suficiente, respectivamente. Em ambos os meios, a simples sobrevivência já pode ser considerada um tipo de sucesso. Nos dois casos, eventualmente há níveis de sucesso acima da média, alguns muitíssimo acima (ser lembrado muitas décadas depois de morrer por conta de um parágrafo memorável, para mim, é mais sucesso do que permanecer na lista de mais vendidos por várias semanas). Espécies novas surgem e outras são extintas, assim como autores e gêneros literários. E assim caminhamos, humanidade, escritores e leitores.

@author, redes sociais e o “sucesso”

 

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