Jonathan Franzen é um dos mais aclamados novelistas americanos vivos. Autor de mais 10 livros (nenhum com tradução oficial no Brasil), ele não está de bom humor com os livros digitais. Segundo uma matéria publicada no The Telegraph UK, Franzen afirmou: “A tecnologia que eu gosto é a edição americana em paperback de Freedom. Eu posso derramar água sobre ela e ainda funciona! Por isso é uma tecnologia muito boa. E, além do mais, ela ainda vai funcionar daqui a 10 anos. Assim, não admira que os capitalistas a odeiam. É um modelo de negócio ruim.”
“Eu acho que, para os leitores sérios, um sentido de permanência tem sido sempre parte da experiência. Todo o resto na sua vida é fluido, mas este texto não muda. Haverá ainda leitores daqui a 50 anos que se sentirão assim? Que têm essa fome de algo permanente e imutável? Eu não tenho uma bola de cristal. Mas eu tenho medo que vai ser muito difícil fazer o mundo funcionar se não houver permanência assim. Esse tipo de contingência radical não é compatível com um sistema de justiça ou auto-governo responsável.”
Franzen, que é conhecido por se desconectar completamente da internet enquanto está escrevendo, falou no Hay Festival – famoso festival de artes inglês –, que aconteceu em Cartagena, na Colômbia:
“O Grande Gatsby foi atualizado em 1924. Você não precisa atualizá-lo, não é? Talvez ninguém irá se importar com os livros impressos daqui a 50 anos, mas eu me importo. Quando leio um livro, eu estou lidando com um objeto específico em um tempo e lugar específicos. O fato de que quando tomo o livro da prateleira ele ainda diz a mesma coisa é reconfortante.
Alguém trabalhou muito para tornar a linguagem correta, do jeito que eles queriam. Eles tinham certeza do que era impresso em tinta, em papel. A tela sempre age como se pudéssemos deletar isso, mudar isso, movê-lo. Assim, para uma pessoa enlouquecida por literatura como eu, não é suficientemente permanente.”
O autor chegou até mesmo a agradecer por saber que não estará vivo daqui a 50 anos para saber se o livro se tornou ou não obsoleto. Ele tem total direito à opinião, e a expressar seus receios, mas na minha opinião, é um exagero. Agora, passado um pouco o afã da morte do livro de papel, estamos comprovando uma existência por ora até que pacífica entre as duas plataformas.
Já percebemos que o livro em papel vai ficar por mais tempo do que o previsto, e que o eBook vai demorar um pouco mais para dominar o mercado do que pensávamos. Mas isso vai acontecer. E a permanência de um livro impresso é tão volátil quanto a de um eBook. Pensem no Novo Acordo Ortográfico, firmado entre Portugal e Brasil. A partir do momento em que ele foi assinado, posso assegurar que 95% da sua biblioteca se tornou desatualizada e obsoleta, pelo menos. E, ao contrário do que ele diz, água pode sim inutilizar um livro. Creio que tudo dependa de um ponto de vista.
De qualquer forma, é bom ter pessoas que estejam do outro lado, nos lembrando da importância de cada elemento em nossa história. É sempre bom.
Para finalizar, irônico ou não, os dois livros mais relevantes de Jonathan Franzen são vendidos para a plataforma Kindle no site da Amazon.
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