Juntar literatura e redes sociais já não é tão novidade assim. Em 2010, a Academia Brasileira de Letras lançou um concurso de microcontos pelo Twitter. No mês passado, o Cláudio Soares, da Obliq Press, começou a publicar Titanicware, definido por ele como “uma cibernarrativa baseada em mídia digital e social construída fisicamente pelo leitor”. Agora, uma talentosa autora americana se junta aos adeptos da literatura em mídias sociais: Jennifer Egan, vencedora do Pulitzer de ficção em 2011, resolveu publicar um conto na forma de uma série de tweets. E mais: o conto está sendo twittado não pela autora, e sim pela renomadíssima revista literária The New Yorker.
A ideia é simples: desde quinta-feira, a New Yorker twitta o novo conto da autora, intitulado “Black Box”, em doses diárias de uma hora. A publicação toda levará dez dias. A história será publicada de forma tradicional também, na edição de ficção científica da revista, que sai na próxima segunda-feira. Já o processo de produção do conto foi mais complicado: no blog da New Yorker, Egan conta que seu texto tinha, originalmente, o dobro do tamanho atual, e que demorou cerca de um ano para adequá-lo ao Twitter. A autora completa dizendo que sua ideia não é nova, mas é muito rica, “por causa da intimidade de chegar às pessoas através de seus telefones, e por causa da poesia estranha que pode acontecer em cento e quarenta caracteres”.
É claro que adequar todo um conto a pedacinhos de 140 caracteres não é nada fácil, principalmente porque cada frase deve ter um sentido dentro deste limite (nada de colocar reticências e continuar em outro tweet). Mas, no total, o conto é muito menos condensado do que um microconto propriamente dito – só na primeira parte, foram 60 tweets, agrupados posteriormente aqui. A repercussão parece ter sido boa: uma leitora comentou que a experiência foi ótima, pois ler os tweets aleatoriamente em sua timeline fez com que ela apreciasse cada linha sozinha, enquanto lê-los juntos lhe trouxe a ideia da história. Por outro lado, um texto do The Guardian traz algumas ressalvas, dizendo que as grandes vantagens do Twitter – sua rapidez e facilidade de manter um diálogo – não estão sendo aproveitadas por este formato:
“A ficção longa, apresentada pelo Twitter, não é nem imediata (no caso da história de Egan, ela está sendo publicada num período de 10 dias, com intervalos de 23 horas) nem parte de uma conversa. Posso ver como o Twitter é perfeito para a genuína ‘flash fiction’, na qual a forma (rajadas de 140 caracteres) se liga totalmente à função (epigramatismo), mas o problema com uma história mais longa é que o meio não é integrado ao trabalho em si, e acaba como nada mais do que um método de entrega peculiar/desengonçado”.
Particularmente, concordo que não explorar a grande vantagem das redes sociais, o diálogo, é um ponto contra Egan. Mas ela escreve tão bem que ler cada tweet é um prazer, e dá vontade de compartilhar todos – talvez, num trabalho autoral de ficção, este nível de interatividade seja suficiente. Para quem quiser decidir por si mesmo, basta acompanhar os tweets da @NYerFiction entre as 21h e as 22h.