Neste final de semana saíram vários relatos interessantes sobre as reuniões que Google e Amazon mantiveram no Brasil, nos últimos dias. Uma entrevista no Estadão, um comentário do blog Biblioteca de Raquel (Folha SP) e um relato minucioso no PublishNews. E mais algumas coisas que me confidenciaram na turma do curso Entenda o Livro Digital, no último sábado, em SP, sobre a última reunião da Amazon com alguns editores, esses dias…
Ao que parece, o mercado nativo brasileiro receberá nos próximos meses as expedições colonizadoras de Amazon e Google. Vamos aos trechos mais legais, primeiro da entrevista da entrevista com o diretor do Google, James Crawford:
Sobre Apple, Amazon e Kobo
Você não vai comprar um cd que só poderá ler em aparelhos de uma determinada marca. Com o passar dos tempos, os consumidores vão perceber que este ambiente fechado simplesmente não funciona e que a solução “compre uma vez e leia em qualquer lugar” será muito melhor para eles. Com relação à Amazon, ela tem feito um bom trabalho, mas este é um mercado muito novo no Brasil e nossa estratégia é a de trabalhar com as editoras e lançar com eles a maior quantidade possível de e-books e disponibiliza-los para qualquer tipo de leitor digital. Estamos também nos aproximando dos vendedores de livros, que são as pessoas que entendem do mercado brasileiro. Portanto, agimos diferentemente da Amazon, que vem de fora sem de fato conhecer o mercado e sem saber o que os leitores querem no Brasil. [A Kobo]é muito pequena, não tem todo o conteúdo e seu conjunto de aparelhos ainda é muito restrito. Trabalhamos com Android; então, nos países em que lançamos, o mercado de Android se transforma no mercado de telefones e de tablets. Primeiro vem os aplicativos, depois os livros. Com a próxima geração do Android e a que vem depois, empresas como a Kobo passarão por maus momentos.
Sobre preços dos ebooks
Nos Estados Unidos, algumas editoras adotam o modelo de agência, que quer dizer que a editora é quem escolhe o preço do livro. Empresas como o Google, Amazon e Apple são as agentes da editora, ou seja, estamos ajudando essas empresas a vender seus livros. Mas oficialmente as editoras são as vendedoras e elas podem fixar o preço. Outras editoras adotam o modelo de venda tradicional, ou seja, nós compramos o e-book de uma editora e vendemos para o consumidor final. Nesses casos, nós definimos os preços. Então, trabalhamos das duas formas. Em todos os mercados que entramos, não pretendemos rebaixar os preços e procuramos cobrar mais ou menos o mesmo preço das outras livrarias.
A chegada do Google, o que os leitores devem esperar
Queremos muito inaugurar a loja em 2012 e é por isso que estamos aqui conversando com os editoras. […] Uma das coisas únicas dos nossos e-books é que você pode comprar uma unidade e ler em qualquer lugar. Vamos supor que você compre um livro digital do Google em seu notebook. Com um aplicativo específico você pode lê-lo no iPad. Também pode ler no iPhone ou num celular Android. É possível ler até mesmo em um eReader da Sony ou em qualquer outro compatível com o Adobe. A outra diferença é que o livro será do próprio leitor e ele não será obrigado a ler em um aparelho específico. Se você começar a ler no telefone e mudar para o laptop e depois do laptop para um tablet, o livro será aberto exatamente na página em que parou.
Além disso, James Crawford também afirmou para a Maria Fernanda que o Google irá vender ebooks com e sem DRM da Adobe, deixando essa escolha na mão das editoras. A empresa se preocupou em transmitir uma imagem de maior abertura para o diálogo, se esforçando para esclarecer dúvidas e ouvir sugestões, afirmando que nos EUA eles fazem reuniões periódicas com livraria e editoras para ouvir sobre como podem melhorar seus serviços… mas quando a dúvida era sobre dinheiro…
Vários participantes fizeram a pergunta e a resposta repetida foi que serão feitas negociações individuais – e elas começam já. Mas, segundo Chris Palma, em declaração ao PublishNews, o Google tem um padrão estabelecido nos Estados Unidos: fica com 65% do valor quando atua como uma distribuidora (e depois divide essa porção com a varejista parceira) e com 55% quando atua diretamente como varejista.
Outra coisa interessante é que o Google aceitará PDFs e ePubs, mas quem não tiver os arquivos prontos, poderá mandar até mesmo as versões impressas para o Google digitalizar. Claro que, quando a esmola é grande, o santo desconfia – a Raquel Cozer sintetiza as principais ressalvas:
Por exemplo, o Google tem tecnologia própria de conversão, muito rápida, que é oferecida às editoras que queiram digitalizar seus livros. Mas os arquivos convertidos não são entregues à editora; ficam numa nuvem do Google. Além disso, a empresa oferece uma plataforma para venda de e-books que as editoras podem instalar em seus sites, simulando suas próprias lojas. Só que o fechamento da transação de compra se dá no site do Google. Ou seja, eles ganham de lambuja acesso aos dados do comprador, que valem ouro puro na internet.
Claro, o Google converte para a editora, só que não existe almoço grátis. A editora não sente nem o cheiro dos arquivos, afinal, ninguém vai converter de graça para depois a editora levar o arquivo para distribuidores e livrarias concorrentes. Isso tem implicações práticas consideráveis: quem confere a conversão e corrige os eventuais erros? O próprio Google, não a editora. E os erros são bastante comuns, a digitalização do Google é rápida mas está muito longe de ser perfeita.
Em relação às vendas em si… você imagina uma Saraiva, uma Cultura, compartilhando dados dos seus clientes com o Google? 😀
Sobre a mais recente reunião da Amazon, me contaram o seguinte: que a Amazon teria dado a entender, para alguns editores, que vai entrar matando, tomar o mercado de ebooks, gostem ou não. E que seria melhor para as editoras fazerem negócio com a Amazon. Em um tom quase terrorista. A reunião deve ter ocorrido em algum restaurante italiano de São Paulo, numa rua escura, tal o tom de filme de máfia. Eu não ouvi a conversa e estou descrevendo o relato de um relato, porém, a julgar por este comentário da Raquel Cozer, acredito que seja verdadeiro:
É engraçado como o Google ameaçava vestir a fantasia de vilão da comercialização de livros digitais até a Amazon se mostrar muito mais competente para ganhar a antipatia das editoras. Parece que com o Google as coisas avançam melhor –inclusive porque ele faz parcerias também com as livrarias, em vez de bater de frente com elas, como faz a Amazon.
Que tenso! oO