Se a crise é sentida com força pelo mercado editorial, que experimenta retração consistente em quase todos os seus indicadores, o digital segue na direção oposta, registrando um faturamento crescente pelo terceiro ano seguido. Os dados podem ser conferidos na recente edição da pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro.
A pesquisa anual, realizada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) sob encomenda da Câmara Brasileira do Livro (CBL) e do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL), mostra que, no ano de 2015, 189 editoras venderam 1.264.517 ebooks, obtendo um faturamento de R$ 20,44 milhões. A quantidade de exemplares vendidos foi apenas 4,2% superior em relação ao ano passado, mas o faturamento superou em 21% o valor apurado em 2014 (R$ 16,79 milhões). Estes números só foram divulgados após o eBooknews alertar a CBL que a primeira versão da pesquisa, divulgada para a imprensa, repetia os mesmos dados de 2014.
Este levantamento deixa de fora ebooks de autores independentes (autopublicados) e editoras não-afiliadas à CBL e ao SNEL, portanto, ele não abarca todo o mercado de ebooks brasileiro. Mesmo assim, a pesquisa Fipe-CBL-SNEL é o principal e mais confiável indicador disponível sobre as vendas de ebooks no Brasil.
Observando a evolução das vendas nas últimas edições da pesquisa, fica clara a tendência de crescimento na venda de ebooks, apesar da crise que assola o mercado editorial brasileiro, às voltas com quedas recorde de vendas no varejo, entre outros problemas. As vendas de “obras gerais” em versão impressa tiveram queda em 2015, vendendo quase 20 milhões de unidades a menos (caíram de 139.75 para 112.81 milhões). Olhando os números obtidos pelo formato digital, fica claro que a queda na venda de “obras gerais” impressas se deve, essencialmente, à crise econômica, visto que a evolução das unidades vendidas de livros digitais não compensou estas vendas – longe disso. E a maior parte das vendas digitais está justamente no setor de “obras gerais”, que abrange títulos de ficção e não-ficção, vendidos no varejo.
A quantidade de ebooks vendidos e o faturamento ainda estão muito distante do obtido pelos impressos (389,27 milhões vendidos, com faturamento de R$ 5,23 bilhões), mas demonstra o grande potencial de crescimento que o ebook ainda tem pela frente, no Brasil.
Considerando que o faturamento com livros digitais aumentou 21%, enquanto em unidades cresceu menos de 5%, é seguro afirmar que os ebooks ficaram mais caros no Brasil, em 2015. O preço médio de um exemplar, considerando a amostra da pesquisa, ficaria em R$ 16,16. Em 2014, o preço médio ficou em R$ 13,84. As pessoas compram menos livros impressos na crise, e não estão considerando o digital como uma alternativa.
Relacionando estes números com os resultados da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, divulgada há poucos dias também pela CBL, fica claro que o ebook no Brasil está diante do seu contexto mais favorável desde 2012, ano em que os players internacionais (Amazon, Google, Apple, Kobo) abriram lojas de ebooks no Brasil. Se por um lado as vendas de livros impressos despencam, por conta da crise econômica, a maioria dos brasileiros ainda não descobriu o formato digital. Quando descobrirem, se encontrarem preços melhores, poderão abraçar com força o digital. Fenômeno semelhante aconteceu nos Estados Unidos, que viu sua economia entrar em recessão por vários anos, a partir de 2007-2008, e assistiu o fenômeno do crescimento das vendas de ebooks, puxadas pela Amazon, com seu Kindle. Guardadas as proporções, está claro qual caminho as editoras, assim como autores independentes, devem seguir daqui para frente.
Baixe aqui a versão a edição 2015 da pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro. Se quiser, baixe também as anteriores (2014 e 2013)
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