“Estamos focados no que chamamos de ‘nosso mundo do livro pós-livraria'”.
“Neste mundo de livrarias em declínio, é nossa obrigação chegar ao consumidor”.
“Agora, o que nós fazemos – incluindo coisas como metadados e cópia do marketing, não é mais para chegar a um comprador [distribuidores, livrarias, etc.], é chegar a um consumidor”.
Com estas frases, os executivos Marcus Leaver, COO da editora britânica de livros ilustrados Quarto, e Gary Gentel, presidente da Houghton Mifflin Harcourt, editora de livros didáticos norte-americana, mostraram o que se passa na mente dos executivos de editoras dos principais mercados editoriais do mundo. A percepção do declínio das livrarias, e sua função como intermediárias na venda de livros, com o avanço do formato digital, foi a tônica de uma das principais mesas do DBW 2013.
Leaver acredita que, em 2014, as livrarias serão responsáveis por menos de 15% das vendas em sua editora. Por isso, ele aposta em buscar e vender diretamente para o consumidor. Como a editora faz isso? Desenvolvendo comunidades de consumidores focadas em assuntos/tópicos específicos, buscando administradores de comunidades que possam lançar os livros entre varejistas-chave e consumidores. Nas palavras de Leaver, “é preciso mais que um bom site, porque nós nunca teremos um site tão bom quanto a Amazon”.
Outra executiva presente na mesa, Karen Lotz, da Candlewick Press, que define sua editora como de porte “médio”, ressaltou a dificuldade para a sua empresa fazer a transição do modelo de negócios entre empresas, para outro focado no consumidor. “A infraestrutura, os tributos, para uma editora de tamanho médio é desafiador”.
Se adotarmos a visão dos executivos, o mundo pós-livraria já não é mais uma questão de “se” irá acontecer, mas de “quando”. O cenário do Brasil, claro, ainda está alguns anos defasado em relação ao mercado editorial dos EUA. Naquelas bandas, o mercado de ebooks começou a decolar em 2009. Por conta disso, hoje em dia nenhum livreiro pensa seriamente em procurar outro negócio. Porém, daqui a 4 ou 5 anos, é bastante plausível que o Brasil viva uma situação semelhante à esta, descrita pelos executivos americanos. É uma questão de tempo, basicamente, até o Brasil alcançar uma base de aparelhos e estrutura de internet similar à americana. Quando tablets (e ereaders, quem sabe) se tornarem itens mais banais, corriqueiros, inclusive em cidades pequenas e médias do interior do país, a base de telefones celulares for quase toda baseada em smartphones e a internet móvel estiver efetivamente difundida e operacional na maioria das cidades com mais de 50, 100 mil habitantes… quando estas condições se colocarem, os mesmos fenômenos mercadológicos de mídia e conteúdo digital, se manifestarão aqui e provocarão as mesmas consequências que se assistem hoje nos EUA.