“Durante várias décadas, o que sabemos hoje como um ‘carro’ foi referida como uma ‘carruagem sem cavalos’. Era mais fácil para descrever esta nova invenção como o que não era, mais do que o que era.” Assim se encerra o artigo de Todd Sattersten para o O’Reilly Radar.
Sattersten cita o programa televisivo de Stephen Colbert no final de outubro onde ele faz piada com a biografia de Steve Jobs em livro, perguntando como redimensionar a imagem, girar o conteúdo, entre outros. Começa aí uma pergunta sobre o que é o livro. E, de acordo com Sattersten, o problema reside justamente no fato de que um livro é um livro.
Primeiro, o esclarecimento. Sattersten é o autor do eBook Every Book is a Startup, publicado pela O’Reilly. Como um experimento, esse livro digital traz a diferença de estar sendo vendido antes de sua finalização, por um preço menor. Conforme o título vai tendo seu conteúdo aumentado seu preço cresce, mas os leitores que já compraram antes recebem os updates gratuitamente.
Ele cita no artigo um problema que vem enfrentando com esse projeto. Apesar de se mostrar um modelo muito interessante, que poderia “patrocinar” autores que não possuem incentivo inicial, a tecnologia disponível ainda não permite que essa seja uma ideia tão boa assim. Sattersten explica que, conforme vai lançando os updates do livro, os leitores antigos que o recebem acabam perdendo seus grifos e anotações no arquivo, uma das boas vantagens do livro digital.
No texto ele também comenta sobre um caso interessante, que acaba levando ao nosso problema de um livro ser um livro. Segundo ele, a blogueira Stacey Madden escreveu no site Toronto Review of Books o seguinte texto:
Eu não quero discutir as vantagens de livros em papel sobre suas contrapartes eletrônicas. O conteúdo de ambos são, na maioria das vezes, o mesmo, e as diferenças residem principalmente no meio. Estou simplesmente apontando um fato semântico. E-books não são “livros”, mas composições digitalizadas. Antes de uma coleção de pensamentos humanos se transformar no que chamamos de ‘livro’, é apenas uma história, um manuscrito, um documento ou um texto.
Madden aponta a necessidade de vermos a diferença entre um livro e suas contrapartes eletrônicas. Sattersten completa com uma dissertação relevante:
Agora, Madden escreve sobre as qualidades poéticas do livro e declara a superioridade do volume encadernado por seu peso, cheiro e capacidade de agir como decoração no apartamento. Este julgamento mina o ponto mais importante e mostra uma outra perspectiva do problema real que nós estamos tendo.
As pessoas que amam os livros pelo que são e o que eles foram estão se agarrando em sua capa dura e seus livros de bolso e dizendo: “Esta palavra pertence a nós.” A tecnologia, abrindo o caminho com tablets sem fio e serviços de recomendação de redes sociais estão tentando dizer: “Você não entende, temos livros e fizemos-los melhor ainda.” Isso é confuso e leva à confusão.
Estamos vivendo um tempo em publicar um livro onde as palavras falham-nos, uma situação que todos nós devemos encontrar alguma ironia, dada a produtos que vendemos. Precisamos de uma nova linguagem que descreve o que acontece e, mais importante, o que é possível quando as palavras são separadas do papel. Essas duas coisas precisam ser separados para que possamos construir sistemas e infra-estruturas que suportam as novas capacidades da tecnologia.
Talvez haja livros e há livros sem papel. Eu sei que é um pouco estranho, e você quer se perguntar: “O que significa isso?” – Mas quando você remove o papel de um livro, torna-se muito mais fácil ver as possibilidades.