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Papo no Twitter: O Que o Levaria a Não Piratear um eBook?


Perguntamos no Twitter e no Facebook “O Que o Levaria a Não Piratear um eBook?” para discutir nas redes sociais e também inauguramos a pergunta em nosso grupo de discussão (que é muito bom, aliás. Cadastre-se aqui). A conversa surgiu na lista, após o email de Marcelo Izukawa:

Preocupado com a facilidade da pirataria dos eBook, já perguntei a muitas pessoas o que levaria um leitor comum a não piratear os eBooks. As respostas foram:

  1. No original você tem certeza de que está lendo a história verdadeira. No pirata, a pessoa pode mudar o conteúdo e sem você saber, leu um final diferente.
  2. O pirata dá trabalho para procurar e baixar. O original está lá no site, é só pagar e fazer o download.
  3. O original deve ser mais completo e fornecer uma experiência enriquecida ao leitor. Assim, o pirata funcionaria apenas como uma forma de divulgação, ajudando de fato o original a ser vendido.
  4. O leitor de verdade pagará para ter o original.

Assim, experimentei baixar um eBook pirata para testar esses argumentos. Em primeiro lugar, notei como fora fácil encontrar, baixar e passar para o meu leitor (iPhone 3GS). O site para download estava na primeira página do google, tive que esperar aqueles segundinhos típicos de sites como o 4share, digitei as letrinhas deformadas, esperei mais alguns segundos do download e pronto! Todo o processo não levou mais de 15 minutos. Não acho que a compra do original fosse de alguma forma mais rápida ou segura. (tentei comprar o original para fazer a comparação, porém, não está à venda).

O conteúdo em si estava um pouco bagunçado. Algumas palavras se encontravam incorretas e alguns números apareciam as vezes aleatoriamente. Ponto negativo para o pirata! Porém, não apresentava defeitos o suficiente(no máximo 1% das palavras estavam estranhas) para inviabilizar a leitura. Assim, consegui terminar de ler as 300 e tantas páginas (páginas?).

Após terminar o livro, me perguntei de que forma a leitura poderia ter sido melhor, além de apresentar uma correção e diagramação 100% (ao invés dos 99% do pirata). Honestamente, não sei. Link com vídeo? Acesso ao fan clube e fórum para discussão?Não sei, mas não valeria o preço do original. E posso até comprar o livro impresso original, porém, com certeza o pirata não funcionou para divulgar o eBook original. Muito pelo contrário, ele substituiu.
E será que li um conteúdo diferente do original? Será que o cara que pirateou fez a sacanagem de reescrever parte da historia só para sacanear? é possível, porém, acho difícil o típico pirata ter a capacidade de escrever tão bem!

No fim das contas, com todos os prós e contras, achei que valeu a pena baixar e economizar os 30 reais do original. Infelizmente, como editor, meus temores foram confirmados.

PS: Foi uma pequena experiência pessoal e não tenho intenção de concluir nada. Ao contrário, gostaria de contribuir para o debate.

As respostas deram em uma ótima conversa, e vamos reproduzi-las abaixo:

Laís Dourado: Para mim, o problema é que a dúvida entre consumir ou não um eBook pirata é a mesma de consumir ou não um mp3 pirata. A facilidade e a qualidade é quase a mesma. Eu vejo mais como uma questão meramente teórica/ideológica, por que na prática o que vai fazer a diferença é o velho “de graça é mais gostoso”.

Ao que me parece, seria preciso fazer uma “mágica” semelhante a um iTunes da vida, que fez renascer um mercado que ninguém esperava (sem discutir o mérito). O simples discurso “piratear é roubar, é feio e etc.” é ultrapassado e não tem absolutamente nenhum apelo pra quem já é rotina o download de músicas, séries, filmes e livros. Não estou entrando na discussão de piratear E comercializar os livros, por que aí é toda uma outra história. Me atenho só ao leitor que procura-baixa-lê-apaga.

Israel Cefrin: Acredito que esta seja a mesma questão que assolou a indústria da música com o MP3. Antes do MP3 tínhamos que pagar um CD para servir de plataforma, sua caixinha plástica e até a etiqueta que era impressa. Tudo isso envolvia um contingente na indústria que com a disseminação do formato MP3 começou a despertar medo e temor nesta indústria, pois perderiam a justificativa de seus preços abusivos.

Porém, o que a Apple fez? “Abraçou” a causa e entendeu como tornar sustentável um modelo de negócio baseado em venda de produtos não físicos. Cada música com um valor aceitável e a experiência de compra muito fácil. A banda Metallica, que amaldiçoava o mp3 e o Napster, hoje tem suas músicas na Apple Store e até aplicativo para baixar via iTunes.

A questão dos eBooks é como facilitar a compra e como realmente tornar muito mais atrativo comprar e consumir o produto não pirata. Mas, ao invés disso, a atual preocupação é como evitar a pirataria. Um produto bom com uma experiência de uso e compra compensadora, por si só já combate a pirataria. Não adianta, pelo menos o que já vi ocorrer, ou é perda de tempo tentar colocar “cadeados eletrônicos” ou códigos de restrição nos produtos. Sempre terá alguém para quebrar (vide o próprio iPhone com o jailbreak que libera usuário root no dispositivo).

Oswaldo Pullen: Sempre haverá os que acham um grande negócio ler um eBook pirata. Assim como existe os que jogam lixo pela janela, os que incomodam os vizinhos, os ladrões, os corruptos e os que, enfim, querem levar vantagem em tudo. Mas também existe a grande parcela que é honesta, e que tem prazer em saber que o que usa é, de fato, seu. Acho que as editoras e os autores têm que acreditar que esta parcela vai fazer a diferença. No resto, é qualidade, modelagem de mercado e valor agregado. O que não pode acontecer é não montar o cavalo por medo de levar tombo.

Paulo Carvalho: Sempre digo que combater a pirataria é perder tempo, nossos esforços devem se direcionar a melhorar os serviços de distribuição e conseguir preços justos, não é apenas a indústria da música que nos mostrou que este é o segredo do sucesso em produtos digitais, mas também a de jogos eletrônicos com plataformas como o Steam. Sob esta perspectiva o DRM é um atraso enorme, a única experiência de DRM que não prejudica tanto o leitor é uma como a da Amazon, a facilidade é tanta que você quase se esquece que tem DRM, embora isso sirva para Kindles e Tablets, se você for colocar seu livro comprado na Amazon no seu Nook ou iriver a coisa deve complicar.

Marco Giroto: O eBook pirata continuará existindo enquanto as editoras quiserem cobrar um preço absurdo por um eBook. Hoje mesmo fui atrás para comprar o X da Questão, do Eike [Batista]. O livro no Submarino custa R$22, e o eBook, R$19,90. Não tem pra Kindle e nem na loja da Apple.

R$19,90 por um eBook sendo que o livro papel custa R$22, realmente não estimula ninguém. Deveria ser pelo menos 50% mais barato. O preço de capa da versão papel custa R$29,90. Por R$15 ainda é caro, mas a diferença seria menor. E o problema não é nem o preço, mas sim a sensação de estar sendo passado para trás. Vejam a diferença, áudiolivros no meu site que o CD custa R$24,90, vendemos por R$13,90 a R$12,90. Preço 50% ou até mais, menor que o CD. Uma vez que o MP3 é BEM mais pesado que o eBook.

Tereza Kikuchi: Acredito que esse debate é muito importante. Mas precisa ser ampliado. Estou pensando muito sobre novos modelos de negócio para a indústria cultural e para isso é preciso estudar, saber o que está acontecendo, quais são as peculiaridades desta sociedade em que vivemos.

Sim, estamos acostumados com a Internet, com tecnologias que facilitam e nos incentivam a reprodutibilidade. E isso pode proporcionar um salto de qualidade para toda a sociedade. Uma mudança de paradigmas, pois com a Internet e a facilidade em compartilhar informações, produtos culturais e notícias, conseguimos um meio para discutir sobre cada uma dessas coisas, refletir, trocar conhecimentos e criar. Só por meio do livre acesso ao saber para toda a sociedade é que se faz o salto de qualidade, seja no aspecto tecnológico, seja no âmbito da cultura ou das condições sociais.

Conhecimento é sim poder. E a Internet foi criada justamente para que o acesso ao conhecimento passe para o maior número de pessoas possíveis e que assim essas pessoas possam ter a oportunidade de criar soluções inovadoras para seus problemas e os problemas de sua comunidade. Só estamos aqui neste grupo de discussão falando sobre o mercado editorial porque temos a Internet. E só temos a Internet como ela é hoje porque seu criador a colocou sob Domínio Público. Inúmeros negócios lucrativos foram criados nesta mesma Internet que é um bem público.

A pirataria não deveria ser considerada um crime para o leitor. Ao contrário, deveríamos pensar em novos modelos de negócio que jamais criminalizem o usuário final se ele resolver não comprar o produto, ou se ele resolver compartilhar seus arquivos de eBook, filme, música ou o que quer se seja. Pois é por meio dessa troca e desse compartilhamento que o conhecimento é difundido e discutido. Por meio desse mecanismo, novas ideias surgem. Estamos vivendo um período semelhante ao do surgimento dos tipos móveis que possibilitou o surgimento da imprensa e ampliou o acesso às informações para um número muito maior de pessoas, pessoas que não tinham como conhecer o conteúdo aprisionado nos mosteiros medievais. Quando isso aconteceu, a sociedade mudou. Os sistema econômico também passou por mudanças e a estrutura social idem. Tudo se transforma, hoje estamos de novo num momento de transformação intensa.

Agora, como um profissional ou um escritor da área editorial vai conseguir se manter financeiramente nesse novo contexto? Existem vários modelos alternativos que já vêm sendo implementados por aí. É preciso estar com a mente antenada e o coração aberto à mudanças. Escrevi sobre esses modelos de negócio recentemente, mas não sei se vocês tiveram acesso ao texto. Fui convidada para colaborar no blog Ideia de Marketing e escrevo sobre o mercado editorial e as alternativas de soluções que fogem ao esquema vender eBooks na Amazon, Google, Apple etc. Alternativas que não consideram a pirataria e o compartilhamento livre um problema, mas sim a solução. Aqui neste grupo, uma pessoa falou em criarmos um rede de profissionais. Acho que precisamos fazer isso mesmo. Talvez uma grande cooperativa online. Sem donos! A Internet foi criada para não ter donos, nem censura!

Paulo Carvalho: Tereza, gostei muito do que você escreveu também acho que estamos em um momento de transição e novos modelos de negócios podem aparecer, acho que a nossa união pode inclusive possibilitar testarmos estes modelos.

Publicidade e livros grátis?
Sistema de Assinatura com preço fixo e baixo?
Revistas literárias?
Serviços Associados ao livro?
Programas de afiliados?

dipnlik: Pra mim os pontos 2 e 3 (divulgação e facilidade de aquisição) são bem importantes. Se você tivesse falado o nome do livro, eu automaticamente iria na Amazon procurar um sample para mandar pro meu Kindle. Quando eu lesse, se gostasse, logo compraria. Tudo bem que “Google + sites de download” não são tão complicados de usar, mas sempre tem um risco e um trabalho adicional envolvido — nada bate uns dois cliques para ver sinopse e reviews de usuários, e mais uns dois para ter o livro direto no aparelho.

Não dá pra exigir que as coisas não sejam pirateadas, o foco tem que ser mesmo em oferecer um serviço melhor que o dos piratas, e torcer que a pirataria sirva como divulgação. Funcionou para o filme Tropa de Elite.

Marcelo Izukawa: “A questão dos eBooks é como facilitar a compra e como realmente tornar muito mais atrativo comprar e consumir o produto não pirata.” Concordo com você, Israel. Tive um Kindle e ele realmente se destacava nesse ponto. Comprei muitos eBooks e sentia que valia a pena pela extrema facilidade. Porém, também tive experiências ruins, como por exemplo comprar um arquivo que não era o livro! Procurei o livro, achei, paguei, dei download e quando abri, era um resumo.

Não acho o iTunes um caso de sucesso no qual possamos nos espelhar. Com certeza vende bem nos EUA, mas no Brasil acredito que a venda seja ínfima. Ainda falando da indústria da música, alguns dirão “Ah, mas o erro da indústria fonográfica foi a demora na adoção do novo formato. Eles cometeram o erro de não disponibilizar e ainda de combater judicialmente seus consumidores. Estes últimos foram educados a piratear. Não podemos deixar que isso ocorra com os nossos.”

O que isso significa? Que no início do mp3 os consumidores teriam comprado o arquivo se houvesse um iTunes? É muito otimismo, num país já educado há muito tempo com a informalidade. E será que conseguimos educar o consumidor a comprar o um arquivo original de um livro quando ele já está acostumado a piratear o arquivo de música? Ambos são igualmente fáceis de encontrar e a certeza da impunidade é a mesma (além da qualidade).

Oswaldo, também acho que sempre haverá uma parcela que achará um grande negócio ler um eBook pirata. A questão é se essa parcela será a grande maioria, como no caso da música, ou minoria. Se formos depender da população “honesta”, que compra mp3, nossa indústria está em grandes apuros! E um discurso moralista não fará com que eles mudem de atitude e passem a comprar.

Ricardo Carvalho, combater a pirataria não é apenas colocar entraves, processar sites e consumidores e etc. Como você mencionou, “melhorar os serviços de distribuição e conseguir preços justos” é também uma forma de combate à pirataria. É fazer com que o consumidor sinta que vale a pena pagar. O Steam é um bom exemplo mesmo, porém, ainda não vi uma forma de aplicar o conceito para os livros. E no fundo, o negócio do Steam só funciona graças a existência de um DRM dos jogos online, o “CD-KEY”.

Paulo Carvalho: Marcelo agora eu já acho que é pessimismo seu, o iTunes não serve de base no Brasil porque acabou de abrir a loja por aqui, mas acho que a premissa que a desonestidade impera é tão leviana como a de que todos são honestos. Na verdade, existem pesquisas que mostram que a honestidade não é uma norma ética imutável no indivíduo, mas depende da situação em que este indivíduo se encontra e a postura do grupo influência muito.

Pois bem, estamos falando de livros, leitores são pessoas munidas de cultura e em geral têm uma postura ética mais desenvolvida. Quando leitores defendem a pirataria eles acreditam que estão tomando uma postura política de pressão por melhores preços e condições para seus livros. Se nos colocarmos como incentivadores de cultura, e não buscando lucro selvagem e exorbitante, acredito que podemos ter apoio e adesão destes leitores.

Ainda digo mais, no nosso blog vemos vários relatos de leitores que pirateiam o livro por ele não existir em versão digital, ou pelo preço do digital ser absurdo mas compram o livro impresso para “pagar” pela leitura, logo acredito que não podemos ter como principio que o brasileiro é desonesto, acho que devemos conseguir preço justo e bons serviços.

Marcelo Izukawa: Diplik, concordo. Antes de meu Kindle quebrar, eu achava ótimo procurar e comprar por ele. Valia a pena. Realmente não dá para acabar com a pirataria. O desafio é tornar a pirataria um problema endêmico e não pandêmico. A pirataria de músicas era endêmica na era dos CDs e fitas cassete (“a pirataria sempre existiu e sempre existirá!”). O surgimento do digital facilitou em muito a pirataria e a tornou pandêmica, acabando com muitas gravadoras. Como evitaremos o mesmo destino? “novos modelos de negocio que facilitem a compra, com qualidade e preços justos”. Novamente… Como? O arquivo pirata é fácil, tem qualidade e é grátis (minha impressão depois do experimento).

Assistir um DVD pirata é diferente de um DVD original, que é muito diferente de ir ao cinema. E o livro impresso é bem diferente do livro xerocado. Mas digital pirata e o original, segundo minha experiência como usuário, se não é igual, é 99% igual.

Paulo, você acha então que é questão de tempo o iTunes dar certo no Brasil? Gostaria de ter seu otimismo. Nem eu e nem você temos argumentos para provar se o leitor vai ser honesto ou desonesto. Só o tempo dirá. Como editor, torço que você esteja certo.

Israel Cefrin: Percebemos que o problema não foi o livro nem o dispositivo ou plataforma, mas a experiência de compra. Devemos esquecer um pouco o problema de livros digitais vs. pirataria e focar na solução, que é prover uma experiência realmente compensadora no consumo de livros em eBook. Qualquer que seja o mercado, o cliente se interessa muito mais pelo benefício (ter um eBook a seu alcance de maneira rápida e sem atropelos ou exigências que atrapalham a experiência de consumo – compra e leitura) do que desempenho (ler o livro em qualquer dispositivo), por exemplo.

Pegando outros mercados, a CocaCola não entrega xarope adocicado gelado, ela “abre a felicidade”. A Nokia não produz celulares, ela “conecta pessoas”. O que o eBook trará de benefício é o X da questão, este benefício é que será comprado e que fidelizará de tal forma que baixar um livro pirata não será interessante. O grande público não consumirá um eBook por estar no formato ePub ou MOBI, ou por passar na validação do ePUBcheck.

Existem alguns motivos, além de desonestidade, para pessoas baixarem livros piratas:

  • O livro não existe em eBook;
  • Estudar o código do ePub;
  • Falta de paciência para retirar o DRM.

Essas três coisas podem ser contornadas, mas somente elas não tornam a compra atraente ainda. O que fará com que isso ocorra? Estou neste grupo para, discutindo, descobrirmos. Meu palpite até agora, é tornar a leitura interativa e lúdica aproveitando a plataforma onde estamos. Gamification na leitura talvez?

Alexandre Pires Vieira: Penso que o preço é quem vai definir o percentual Originais x “Piratas”. Não só preço financeiro, mas também a questão de facilidade de comprar, usar, encontrar. Estou finalizando um livro sobre direito autoral muito focado no tema pirataria. (versão beta a venda por $0,99 na Amazon – Direito Autoral na Sociedade Digital).

Abaixo está uma parte da conclusão, onde uso as idéias de Kevin Kelly sobre o tema. Detentores de direitos autorais precisam entender que o compartilhamento de conteúdo na Sociedade Digital é um fenômeno social sério e relevante e que cada vez mais será defendido e praticado.

A solução para estas questões passa pelo desenvolvimento de novos modelos de negócio, novos modelos que implicarão em grandes mudanças estruturais na indústria do conteúdo. Assim como a Eastman Kodak sucumbiu ao não perceber que a sociedade não mais tinha interesse em filmes fotográficos, gravadoras, estúdios e editoras que insistirem em vender “pedaços de plástico” ou “maços de papel” seguindo o modelo de negócios atual provavelmente estarão fadadas ao fracasso.

Kevin Kelly, em seu blog, The Technium, publicou um artigo intitulado de “Better than Free” onde faz uma pergunta perspicaz e assustadora para os detentores de direitos autorais: “O que as pessoas estão dispostas a comprar quando as cópias se tornam gratuitas?”. Em tal artigo o autor diz que a Internet é uma máquina copiadora. Afirma que:Uma vez que qualquer coisa que pode ser copiada entra em contato com a Internet, ela será copiada, e essas cópias jamais desaparecerão. Até um cachorro sabe que não dá para apagar algo uma vez que fluiu pela Internet”.

Nesta linha de raciocínio, defende que “cópias superabundantes se tornam sem valor. Quando cópias são superabundantes, coisas que não podem ser copiadas se tornam valiosas. Quando cópias são gratuitas, é preciso vender coisas que não podem ser copiadas”.

E o que não pode ser copiado? O autor, analisando o assunto sob a ótica do usuário, propõe oito qualidades que não podem ser copiadas e que são capazes de gerar valor aos consumidores de conteúdo intelectual. Ele chama essas qualidades de “Generatives”, aqui traduzido para “geradores”. Resumidamente estas qualidades/geradores são:

Imediatismo – Cedo ou tarde, se encontra uma cópia gratuita de qualquer conteúdo, mas ter uma cópia entregue no momento em que é lançada – ou, ainda melhor, produzida – por seus criadores é um ativo gerador. Como qualidade vendável, o imediatismo tem vários níveis, incluindo o acesso a versões beta. Usuários podem ser envolvidos no próprio processo gerador, e irão pagar por isso.

Personalização – Uma versão genérica pode ser gratuita, mas uma cópia ajustada para ressoar perfeitamente na sala do usuário pode incentivá-lo a pagar caro. Aspirina pode ser grátis (ou quase), mas aspirina ajustada ao DNA do paciente será muito cara. Não se pode copiar a personalização representada por um relacionamento.

Interpretação – Velha piada: software é grátis, manual $10 mil. Mas não é uma piada. Algumas empresas muito conhecidas como a IBM, Red Hat, Apache e outras ganham a vida fazendo exatamente isso. Fornecem suporte pago para software gratuito.

Autenticidade – É possível conseguir software essencial proprietário gratuitamente na Internet mas, talvez prefira certificar-se de que é livre de vírus, confiável e garantido. Usuários pagarão pela autenticidade e pela garantia de qualidade. O livro “A Tormenta de Espadas” pode ser conseguido gratuitamente na Internet, porém se o usuário quiser ter certeza que conseguiu o conteúdo completo conforme revisado pela editora, ele pagará por isso.

Acesso – Propriedade dá trabalho, é um saco. Você precisa manter as coisas organizadas, atualizadas e, no caso de materiais digitais, fazer cópias, e ter certeza que não perderá o arquivo. Muitas pessoas ficariam satisfeitas em permitir que outros cuidem de seus “bens” e pagariam para poder acessá-los quando precisarem. Poderiam sorver tudo de seus celulares, PDAs, laptops, TV HD, de onde seja. É o modelo iCloud da Apple ou da Amazon Cloud Drive.

Encorpação – Em sua essência, a cópia digital é incorpórea. PDFs são bons, mas às vezes é delicioso ter as mesmas palavras impressas em papel de qualidade encadernado em couro. Que tal entrar em seu jogo eletrônico favorito (grátis) na mesma sala com 35 outros participantes? E nada se encorpa tanto quanto música num espetáculo ao vivo, com corpos de verdade. A música é de graça, o show é caro. Essa fórmula já está se tornando comum, não apenas para músicos, mas até para autores. O livro é de graça, a palestra é cara.

Patrocínio – O público QUER pagar aos criadores. Usuários gostam de recompensar a artistas, músicos, autores e outros criadores com demonstrações de seu apreço. Mas só se for fácil fazer o pagamento, se for um valor razoável e se houver a certeza de que o dinheiro irá beneficiar os criadores. O recente e altamente visível experimento do Radiohead – onde se permitia que fãs pagassem o que quisessem por uma cópia de seu último álbum – é um ótimo exemplo do poder do patrocínio.

Encontrabilidade – O preço zero não ajuda a atrair atenção para uma obra e pode até desestimulá-la. Mas, não importando o preço, uma obra não tem valor a não ser que seja vista; obras-primas não descobertas não valem nada. Quando há milhões de livros, milhões de músicas, milhões de filmes, milhões de aplicativos, milhões de tudo pedindo atenção do público – e boa parte grátis – ser descoberto tem valor. Assim editoras, estúdios e gravadoras serão sempre necessárias, pois atuam como curadores, atraindo a atenção dos usuários para suas obras.

Em resumo, o dinheiro nessa nova economia digital não segue o caminho das cópias, mas, sim, segue o caminho da atenção.

O fácil vence o grátis. Detentores de direitos autorais precisam criar novos modelos de negócios onde atributos similares aos oito elencados acima estejam presentes e tornem o pagamento um atrativo, pois soluções antigas que dizem que “se deve pagar porque a lei assim determina” terão cada vez menos ressonância na sociedade, e, talvez, um dia, a sociedade pode alterar tais leis.

Eduardo Melo: Vejam o comentário de uma leitora, recebido ontem no post da Simplíssimo Ler eBooks no Galaxy Tab é Muito Bom:

Oi, eu comprei um Samsung Galaxy Tab 7, mais não sei ver TV, e nem ler livros porque não veio com livros e eu teria que comprar livros?

Há consumidores que, apesar de terem acesso a um tablet, um eReader, não sabem como usá-los. Imagine a dificuldade que esta do comentário experimentará, se quiser comprar um livro. Será que ela consegue? Talvez esta aqui ache muito mais fácil achar um arquivo na Internet e fazer download…

Dipnlik: Procurar um arquivo na internet, fazer download, plugar aparelho no micro, copiar os arquivos corretos pra pasta correta do aparelho e daí usar um aplicativo de leitura para abrir o arquivo nunca vai ser mais fácil que usar o próprio aplicativo para navegar por uma loja de livros e baixar arquivos — exceto se o aplicativo for BEM porco.

Eduardo Melo: Se ela baixar um PDF ou ePub navegando no próprio tablet, provavelmente vai abrir direto em um dos aplicativos pré-instalados no aparelho. O Galaxy vem com leitor de eBooks pré-instalado. Não é dos melhores, mas funciona.

Oswaldo Pullen: O Gaston Bachelard falava do conceito de Barreira Epistemológica, que é muito comprido para discutir neste momento, mas que implica afinal num erro de conceito inicial, uma pressuposição, que leva o cientista a conclusões bisonhas.

Acho que a gente está topando em alguma coisa assim. Volto ao McLuhan que dizia que o meio é a mensagem. Se o livro troca de meio, então ele não precisa mais ser somente o que o livro impresso era. E o valor adicionado pode ser alguma coisa que o pirata não contenha. Alguma coisa que o leitor só vai conseguir se pertencer à comunidade dos que compraram o “livro”, ou seja lá o que ele venha a ser a partir de agora.

p.s. Que tal o livro como uma assinatura? Um login? O livro como processo? Pagar para não aparecer anúncios?

Marcelo Izukawa:e nem ler livros porque não veio com livros e eu teria que comprar livros?“. Vamos analisar essa frase. Primeiro, dá para perceber que ela comprou o tablet e tem a intenção de ler livros nele (ótimo). Segundo, ela achou que já vinha com livros. Terceiro, ela não pergunta como comprar livros, mas se teria que comprar. Ou seja, a ideia da compra do livros feito de bits ainda lhe parece estranha. O problema com esse tipo de consumidor me parece tanto um problema de dificuldade técnica de uso, quanto de “educação” ao conteúdo legal.

Israel Cefrin: Mas se considerarmos o conceito de TV que está dentro do tablet, faz certo sentido. Porque ela tem de pagar por livros no aparelho e pela TV ela assiste de graça? Embora saibamos a diferença na produção e concessão existente entre os dois (TV e livros), esta consumidora encarou o leitor de livros com o mesmo conceito do receptor de TV existente em seu dispositivo móvel. Talvez esteja aí uma oportunidade a ser explorada: livros patrocinados, do mesmo modo como a programação televisiva. Já falou-se sobre isso aqui, e pelo que percebemos o consumidor não se importa com a propaganda, desde que não seja intrusiva (como os malditos pop-ups), mas contextual e relevante, melhorando a experiência de consumo.

Ludson Aiello: A relação pirataria x produtos digitais é sempre muito complexa, mas acredito que estas novas gerações que começarão a surgir, virão habituadas a pagar pelos conteúdos, desde que estes tenham valores acessíveis e justos. Eu mesmo sou um usuário da boa e velha pirataria de músicas, programas e jogos, mas tem-se aos poucos criado uma cultura de pagar, desde que um preço justo, pelo conteúdo.

Ainda vamos sofrer muito com a pirataria, mas tenho certeza que as próximas gerações terão muito mais o hábito de pagar pelo consumo do que perder seu precioso tempo buscando formas de piratear, que geralmente oferecem produtos ruins, incompletos ou que demandam tempo para se conseguir com qualidade, será muito mais prático pagar para ter o livro imediatamente em seu dispositivo do que dispensar horas buscando uma solução gratuita.

Marcelo Izukawa: Israel, achei sua comparação com a TV bem interessante. Também gosto da ideia de publicidade nos livros. Mesmo os pop-ups eu não acho tão ruim. Sempre usei o portal G1 e não deixo de usar, apesar dos pop-ups.

Ludson, como usuário de jogos, músicas e programas piratas, você deve saber que eles não são ruins, nem incompletos e nem demoram horas na busca. Demorei 4 minutos para achar o PDF do best seller da gato sabido, o livro “Privataria Tucana”. É o mesmo PDF vendido na loja virtual por R$24.

Marco Giroto: Vejam a minha frustração com relação aos serviços oferecidos no Brasil: entrei na nova loja de eBooks da Submarino, onde O X da Questão estava mais barato do que outras lojas. Lá anunciava que eu comprando, poderia ler no meu iPad. Ok. Fiz a compra. Quando fui baixar o aplicativo para iPad, não tinha. Está em desenvolvimento. Como eles anunciam algo que não existe? Detalhe: Eu uso Mac Lion, e o aplicativo deles para Mac não funciona para Lion. Resumindo, fui completamente enganado, mesmo sendo um usuário um pouco mais avançado. Imagine agora os milhões de usuários básicos. O serviço de eBooks no Brasil ainda é vergonhoso. Se a Amazon entrar no mercado, tenho pena das demais empresas.

Ludson Aiello: Infelizmente o mercado atual de fato vai sofrer muito até se adaptar e oferecer serviços de fácil acesso e de qualidade, e como eu disse, é um processo que está ocorrendo. Atualmente, disponibilizar um livro em PDF para a venda de fato é um grande risco por simplesmente não existir um formato real que garanta a segurança do produto.

Esta é a maior preocupação e creio eu o que mais vem engessando o ingresso das editoras neste mercado. Existem algumas soluções como o DRM, mas que ainda assim não representam de fato uma segurança confiável, como eu disse, é uma cultura que ao meu ver aos poucos começa a ser difundida, usuários de iPads e iPhones têm o habito de pagar pelo seu conteúdo, mesmo que extremamente barato. Com o avanço tecnológico e com a facilidade e baixo custo na aquisição de produtos em dispositivos acredito que a cultura da pirataria tende a reduzir, mas como disse, é algo que ao meu modo de ver está nascendo, a geração atual tende a piratear muito.

E Marco, realmente o mercado de eBooks no Brasil é uma vergonha atualmente, mas muitas coisas novas estão chegando e a Amazon ainda não é uma delas.

Alexandre Pires Vieira: Ludson, entendo que não publicar um livro digital por medo de pirataria é uma decisão equivocada, isso porque existem grupos que digitalizam página por página do livro impresso, passam no OCR, corrigem os erros e convertem para os formatos PDF, Mobi, ePub e Word e então colocam na web.

Para exemplificar temos “A Tormenta de Espadas” de George R. R. Martin, publicado pela Editora LeYa Brasil. Converteram em duas semanas após o lançamento. A qualidade não é perfeita, mas bastante aceitável. Enquanto isso, quem quer comprar a versão digital não consegue, pois não está disponível e uma simples pesquisa no Google traz diversas versões piratas.

E essas foram as respostas na redes sociais:

ljdearaujo Baixo custo ou parte de seu preço destinado a projetos sociais.

mauremk Encontrar os títulos que procuro em formato compatível / “conversível”para meu aparelho com facilidade de compra e download.

licurgoalmeida Não possuir o gene “lei de gerson” no meu DNA de brasileiro.

nathanpc eBooks técnicos por 12 USD.

Josué Torquato um conteúdo que não fosse interessante!!!

Ale Mello O preço e a compra ser acessível e simples. Ter dor de cabeça pra comprar um livro digital é o ó.

Gilson Machado Concordo com Ale Mello. Com um preço bem competitivo, facilidade de compra e utilização, piratear pra quê?

Aylons Hazzud O de sempre: um preço razoável, facilidade para comprar e ausência de restrições. Eu tenho comprado alguns livros na Amazon quando o preço é razoável, mas isso é graças ao programa que tira as restrições.

Regina Azevedo Um valor justo. Algo em torno de R$1,99 a R$9,99, no máximo!

Myrian Elizabeth Dauer Um preço compatível.

Roberto Nunes Dos Santos Preço justo.

Gabriel Jose Apenas o bom senso de achar um com preço acessível.

Thiago Marcial Negrão Ética!

Noga Sklar Além das óbvias razões, como não cometer crime ou prejudicar o direito alheio, acho que há grandes vantagens no eBook legal, como, por exemplo, poder lê-lo em vários aparelhos simultaneamente, no caso da Amazon até mesmo na nuvem, em qualquer lugar do mundo, além da qualidade da edição, texto completo, capa sem deformações, download imediato e sem interrupções ou espera. No caso da KBR em especial, o preço é tão acessível (nosso TETO é R$12) que não vale a pena o incômodo. Ainda no caso da Amazon, e isso será amplamente conhecido quando a empresa chegar ao Brasil, podemos até mesmo divulgar passagens do livro em nossos perfis do Twitter e do Facebook para compartilhar com os amigos, não é excelente?

A participação de todos foi muito interessante, e espero que possamos dar continuidade a esse debate aberto no Twitter. Se desejar participar dos debates posteriores, siga o twitter do Revolução (@revebook) e fique atento às próximas perguntas.

 

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