Um artigo fantástico no New York Times faz um panorama histórico das mudanças nas plataformas de leitura ao longo do tempo. Hoje, a revolução se trata do livro impresso ao leitor eletrônico, tablets e eReaders. Mas em outras épocas, houveram mudanças tão significativas quanto essa.
No início, os rolos eram a plataforma mais utilizada para guardar informação. Era um meio especial, usado somente para textos sagrados, documentos, história, literatura. Para escrever textos cotidianos, as pessoas dispunham de tábuas cobertas de cera, e usavam uma caneta para riscar o objeto.
Certo dia, inventaram de unir algumas tábuas em um conjunto. Eventualmente, essas placas foram sendo substituídas por pergaminhos, e assim nasceu o códice. E, mais interessante ainda, foram os cristãos que popularizaram esse meio, um jeito de distribuir a Bíblia. O códice era portátil, compacto, barato e fácil de montar.
Além disso, a experiência melhorou. Era possível alcançar qualquer parte do texto mais facilmente, não era preciso desenrolar tudo. Podia marcar uma passagem, comparar com outra. Os tipos móveis trouxeram a rapidez da produção, a rapidez da distribuição. Livros começaram a se tornar populares. Contra o gosto da igreja, que detinha o poder da produção.
Agora, estamos avidamente testando um novo formato para o livro, assim como os primeiros cristãos fizeram. Durante o primeiro trimestre deste ano as vendas de eBooks subiram 160%. As vendas de impressão – vendas de códices – caíram 9%. São números extremamente altos. Mas, ao contrário da última vez, não é um caso claro de uma tecnologia superior deslocando uma inferior. É mais complexo do que isso. É mais sobre mudanças de caminhos.
Os eBooks são mais compactos, portáteis, mais pesquisáveis. Livros não precisam de bateria, entretanto, além de serem mais elegantes e queridos. Os códices trouxeram ao mundo a possibilidade da navegação não linear, coisa que os rolos não tinham.
Ironicamente, é um inferno navegar sem linearidade em um leitor eletrônico. Por isso, a matéria afirma que esse é o motivo pelo qual trouxemos palavras como “scroll” (rolo, rolar) e “tablet” (tábua, placa) de volta à tona.
Na verdade, o códice não é apenas mais um formato, é aquele para o qual o romance é otimizado. A linguagem do romance contemporâneo, a densa camada criou raízes e cresceu no códice, e exige o tipo de navegação que só o códice fornece.
O autor do artigo, Lev Grossman, termina de modo inesperado. Ele espera que os impressos não morram, pois estaríamos perdendo essas capacidades que o códice nos traz, e pede para pensarmos no que estaríamos sacrificando ao abandonar o impresso e partir para o digital.
Não é engraçado? Grossman conta como o códice melhorou a vida da sociedade ao substituir o rolo e agora, assim como os que foram contra o próprio códice e os tipos móveis, ele defende a permanência do que é velho.
Ele defende o livro impresso de forma cega, colocando o eBook como ele é hoje, em seu nascimento. Ainda não sabemos o que será o eBook do futuro, e o quão diferente ele será do que é hoje. É muito primitivo colocar a não-linearidade de um eBook – em plena era do hipertexto e da internet – apenas em um aparelho, um meio como o eReader, ou qualquer leitor eletrônico.
Como citei no artigo Livros e Internet Irão se Tornar Uma Coisa só?, é preciso nos desfazermos do livro como objeto para aí sim enxergarmos os novos caminhos para o livro como informação e conhecimento.