Participei do ToC (Tools of Change) em Frankfurt, encontro dedicado à reflexão sobre o mercado de ebooks. Eram vários os temas abordados, mas nos encontros que participei era evidente a presença de um tema central: a importancia da experiência do leitor.
Logo no inicio foi apresentada uma panorâmica sobre o mercado “mobile” e como ainda está longe de ter uma presença significativa de livros digitais. Esta é uma oportunidade aberta, os dispositivos móveis devem se tornar o principal canal de contato com o mundo tecnologico, oferecem uma experiência de uso agradável e pessoal.
No encontro sobre a leitura social, online e offline, foi insistido que precisamos pensar o livro digital como algo diferente do livro impresso. Não somente no modo de conceber ou fazer o livro, mas no modo de divulgar e permitir uma nova interatividade entre leitor-livro e leitor-leitor. Estão nascendo novas plataformas de social reading, que permitem uma leitura “social” ou partilhada. Esta experiencia de leitura comunitária ja existe no livro impresso, por exemplo nos círculos culturais ou grupos de leitura. Com o eBook, é potencializada, permitindo um grau maior de participação e de troca de ideias. Do ponto de vista do editor não interessa como se dá esta leitura social, o que conta é o conhecimento que esta oferece. A difusão nas redes sociais está se tornando um meio eficaz de divulgar o próprio livro.
No encontro sobre os preços, foram citados casos concretos sobre a problemática dos preços, mas o ponto central é que um produto de qualidade pode ter preço mais elevado, e o editor não pode pensar em concorrer com o self-publishing, que oferece preços irrisórios. Outro ponto fundamental: o preço não é o fator principal para as vendas. Muito mais importante é a experiência que o leitor tem com o livro, a confiança que o leitor deposita no editor/autor, e a difusão (marketing) da obra.
No encontro sobre o Design e tipografia nos livros digitais, se falou bastante sobre o fato que o livro digital oferece uma experiencia de leitura diferente, que por consequência precisa de uma tipografia diferente daquela do livro impresso. Os aparelhos ainda nao suportam todos os padrões do ePub, mas estamos caminhando para isto. Um dos motivos pelos quais os aparelhos não suportam as especificações do ePub é o fato que muitos editores produzem material de baixo nível, tipograficamente feios e não pensados para o digital. Por isso, os softwares leitores tendem a sobrescrever as informações estéticas dos arquivos, para deixá-los mais apresentáveis. Neste ponto também foi lembrado como a experiencia de leitura é fundamental, e como cada aparelho oferece ao leitor uma experiencia diferente.
A palestra sobre a pirataria foi muito interessante. Nada de revelador, o tema é quente e dificil de tratar. A O’Reilly, editora americana, deu o seu testemunho: a confiança no cliente é a chave do seu sucesso. Em outros lugares, como na Rússia, os editores estão fechando parcerias com sites piratas. Lá a pirataria é flagrante e a solução encontrada foi transformar o pirata em vendedor, transformando casos perdidos em aliados. Na Alemanha, o problema é irrelevante, ele existe mas não é um fenômeno de impacto. Na Inglaterra, se tenta combater sobretudo os piratas de grande porte, como aqueles que pegam o livro impresso e mandam imprimir cópias nos países africanos, vendendo clandestinamente depois. Para os ingleses, o problema da pirataria informal (entre amigos e conhecidos) é pequeno, eles tem que enfrentar este fenômeno muito mais sério.
Fernando: concordo que a leitura digital deve ser pensada para além do livro impresso. É algo que me parece lógico e benéfico. Essa é minha abordagem em Titanicware [http://oglobo.globo.com/cultura/tecnologias-como-smartphones-geolocalizacao-games-remodelam-arte-de-contar-historias-5854542]. Abs.