Esta foi a pergunta feita pelo site Publishing Perspectives, poucos dias atrás, em relação ao mercado americano. Os leitores do PP disseram, basicamente, que os didáticos digitais são apenas versões digitalizadas dos livros impressos, até mesmo PDFs, custando o mesmo que o impresso. E para eles, habituados a revender livros didáticos para outros estudantes, após o término do período letivo, não faz nenhum sentido pagar a mesma coisa por uma versão meramente digitalizada, que não poderá ser revendida.
Nada muito diferente, afinal, do que o Brasil experimenta nesta área. É justamente a digitalização do conteúdo do livro digital, o que atrasa a sua adoção. Melhor dizendo: a dificuldade em adaptar e re-produzir o conteúdo didático, para funcionar com recursos multimídia – vídeos, áudios, animações, etc. No mundo todo, tanto faz se no principal mercado do livro digital, ou nos mercados insulares, como o brasileiro, as principais barreiras para a adoção dos livros didáticos digitais residem em dois pontos:
Nos EUA, diferentemente do Brasil, a maior parte do mercado de livros didáticos digitais está voltada ao público universitário, e os e-textbooks são vendidos diretamente aos estudantes. Mesmo assim, os problemas são comuns aos dois mercados.
Imagine um livro de matemática ou engenharia, por exemplo, falando sobre alavancas. Alguém terá que planejar que exemplo pode ser dado, e pensar este exemplo como uma animação. Outras pessoas terão de desenvolver e implementar a ideia do ponto de vista técnico, prático. Mais alguém entrará em cena para avaliar isso. Multiplique isso por algumas dezenas, e você tem todos os recursos multimídia que podem ser incluídos em um único livro. É bastante trabalho, certo? Multiplique isso por centenas de livros, e você estará abrindo a porta para um volume colossal de trabalho, que precisa ser adicionado e organizado no cotidiano das editoras, de forma controlável e quantificável. Isso sim pode ser chamado, tranquilamente, de revolução, porque altera não só a cadeia de produção, mas as próprias estruturas de hierarquia e orçamento dentro das editoras.
O livro didático deixou, há muito tempo, de ser apenas um produto autoral. O didático é o automóvel da indústria editorial, fruto do fordismo, do toyotismo e muitos outros ismos aplicados no setor. Organizar uma linha de montagem eficiente para didáticos realmente digitais, que incluam multimídias cujos formatos e modelos são francamente desconhecidos para as editoras, é trabalho para anos. E ainda não existem parâmetros exatamente definidos e bem conhecidos para isto, nem mesmo no principal mercado, que é o norte-americano.
Que ninguém nutra expectativas em ver livros didáticos, em massa, contendo mega-recursos digitais hiper-úteis. Porque a decepção será grande.
Caro Eduardo, compartilho da mesma opinião sobre o volume de trabalho para digitalizar livros didáticos utilizando os melhores recursos disponíveis no mercado. Não basta digitalizar, é preciso aproveitar ao máximo as possibilidades de novos recursos que a tecnologia oferece. E isso leva tempo.
Mas o que dizer quanto à posição das fabricantes de papel com relação a tudo isso?
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