A chegada das grandes lojas de eBooks no Brasil trouxe vendas, entusiasmo e… muita dor de cabeça para as editoras! Veja as 3 dores de cabeça mais frequentes.
Os problemas técnicos iniciam no momento de passar o conteúdo que a editora possui, para o formato desejado pelas lojas, ePub ou mobi (Amazon). Quase sempre os arquivos que foram preparados para o impresso estão somente no formato PDF ou, quando estão em softwares como o InDesign, estão muito mal diagramados. Não me refiro aqui ao aspecto estético, neste sentido os designes brasileiros são geralmente muito bem feitos. Me refiro ao fato que as ferramentas disponíveis no InDesign, que facilitam a passagem do conteúdo para o digital, são pouco usadas, até mesmo desconhecidas de alguns diagramadores.
Um exemplo? O uso dos estilos de parágrafos e de caracteres, aplicados de maneira consistente. A falta deles, ou a aplicação errada, dificulta muito a produção de um arquivo ePub (ou mobi) a partir do InDesign. É interessante notar que são recursos apresentados pela Adobe para os livros impressos, por isso não vale a desculpa de que “o livro não tinha sido pensado para o digital”.
Se os arquivos estão em PDF, os problemas são maiores, ou menores, dependendo do ponto de vista. Um PDF bem feito, pode ser transformado em texto e depois passado ao formato ePub. Dá trabalho! Mas ajeitar um documento no InDesign feito sem critério, também dá muito trabalho, assim como converter de outros softwares – Corel Ventura, Xpress ou PageMaker.
Todo mundo agora passou a ser produtor de eBooks. Que bom! Novo mercado e novos desafios são sempre um estímulo. O problema para os editores, é que os profissionais da área são poucos e aqueles qualificados, menos ainda. Muitos dizem saber fazer, mas na realidade sabem somente exportar do InDesign, sem ter o minimo de conhecimento sobre XHTML e CSS, que é a linguagem de marcação para o texto.
O InDesign, apesar de ser fantástico, tem muitas limitações quando exporta para o arquivo ePub. Por exemplo, não consegue (ainda) exportar linhas ou fundos coloridos, ou box com imagens de fundo. O código é muito sujo (confuso), do ponto de vista técnico exige um bom trabalho de limpeza. Quem trabalha na web não encontra dificuldades, mas quem vem da produção dos livros impressos sofre bastante neste ponto. E não tem jeito. Sem conhecimentos de XHTML e de CSS, é melhor não produzir arquivos ePub, ao menos, não profissionalmente.
Além dos conhecimentos básicos destas duas linguagens, é necessário um bom conhecimento da estrutura do arquivo, e do funcionamento interno do mesmo. Este conhecimento vai facilitar muito a resolução dos problemas que podem surgir.
A necessidade de conhecer o funcionamento do arquivo ePub se torna gritante quando enfrentamos a maratona para o envio dos arquivos às lojas. A loja da Apple tem as suas especificações próprias, a Kobo tem outras, o Google play tem outras ainda. E estou apenas falando do formato ePub. Quem envia arquivos para a Amazon, transformando o arquivo para o mobi, deve enfrentar as características técnicas deste formato e as exigências especificas da Amazon.
Na prática, o que funciona em uma loja, nem sempre funciona em outra. Acredito que livraria menos “chata” seja a Kobo, uma vez que ela aceita as mesmas especificações de arquivos que a Apple, e também as mesmas que a Saraiva usa. De fato, em um breve encontro em Frankfurt com uma das responsáveis da Kobo, ela me disse que a empresa está comprometida com os padrões e não tem intenção de criar especificações próprias. Gosto disto. Acho que esta é a estrada para o futuro do digital.
Por outro lado, a Apple é famosa pelas inovações e não deixa de provar isto também nos livros digitais. Foi a primeira a aceitar o formato ePub 3, até a incentivá-lo. Permite já a possibilidade de criar notas de rodapé em janelas popup, de maneira fácil, e possui um sistema de atualização de conteúdos.
Já a loja do Google Play pode dar problemas com alguns arquivos, no que diz respeito às definições de tamanho de imagens e imagens em SVG. É útil preparar um arquivo específico para esta loja.
Já falei brevemente da Amazon. É uma loja que implica muito com a formatação. Reclama de problemas às vezes inexistentes no ePub, mas presentes nas especificações exigidas só por eles. Alguns exemplos:
Sempre insisto muito neste aspecto: é preciso pensar o conteúdo para o digital. Por enquanto estamos vivendo um período de passagem e queremos simplesmente reproduzir o que temos no impresso. Vai chegar o momento em que será necessário um novo projeto gráfico para os livros que irão para o formato digital (em qualquer formato, ePub, mobi ou aplicativos).
Além disto é necessário que algumas palavras passem a entrar no vocabulário dos designers de eBooks, como usabilidade, acessibilidade, design responsivo. Será necessário conhecer a fundo cada plataforma de publicação!