Em nossa avaliação, o principal motivo pelo qual as editoras não lançam e promovem mais seus títulos em eBook é paradoxalmente o motivo financeiro.
Nos dois últimos anos houveram consideráveis, sinceros e elogiáveis movimentos das Editoras no sentido de compreender o potencial do formato e com investimentos efetivos nessa direção. Porém, assim que constataram as duras e inconvenientes realidades desse novo mercado, puxaram o freio de mão completamente, passando a não mais advogar o formato.
Porque isso aconteceu?
Perceberam que irão ganhar menos. Simples assim.
Historicamente no Brasil nunca se ganhou dinheiro exatamente vendendo livro.
As margens sempre estiveram atreladas e e vinculadas com custos de impressão (e de edição) bem nebulosos e muito questionáveis.
Sem querer defender o indefensável é importante salientar que isso ocorreu (e ocorre) no Brasil por motivos vinculados a outro mecanismo também extremamente perverso do mercado editorial chamado “Consignação”. A tal de “consignação”, enquanto modelo vigente no mercado livreiro, desestrutura o fluxo de caixa das editoras fazendo com que elas procurem também repassar essa não-transparência para o restante do ciclo editorial, com ênfase ao Autor.
A soma dessas práticas negativas sugeriu para muitos editores que a monetização (muitas vezes sobrevivência) de suas operações estava lastreada no que há de mais nebuloso no ciclo do processo editorial: os custos de impressão e suas hipotéticas edições.
Dessa forma, historicamente a parte mais lesada nesse processo vêm sendo os autores, que nunca têm como mensurar exatamente a venda efetiva de seus livros, pois essa auditagem é elaborada pela parte menos interessada na tal transparência: a própria editora.
Quando muitos editores perceberam que os processos de venda e mensuração (no caso dos eBooks) têm toda uma dinâmica própria com enorme transparência, enxergaram rapidamente que suas margens poderiam (e podem) cair substancialmente, pois o formato oferece dados muito mais confiáveis para os autores.
Como a tendência do livro digital é a diminuição em média de 40% do custo final do livro (por não haver impressão), torna-se claro que as margens (que já não eram grandes) tendem a cair mais ainda. Ocorreu o mesmo com o mercado fonográfico e cinematográfico e com livros não vai ser diferente.
A partir do momento em que o mercado editorial constatou tais fatos, retrocedeu fortemente em seus esforços no sentido da promoção do livro digital, passando de uma posição otimista e pró-ativa, para uma posição defensiva e tendenciosa com discursos velados de desestímulo sobre a plataforma, principalmente com a tática da desinformação ao autor.
Em frente aos holofotes da mídia é claro que o discurso muda, mas nas reuniões periódicas com seus autores a conversa é bem diferente.
Esse desestímulo procura instaurar nos autores o receio, promovendo a tendenciosa opinião de que o “eBook não é seguro contra cópias” (importante frisar que de fato não é) e “por isso” não deve haver maiores defesas ao formato enquanto perdurar essa situação limitante com relação à tecnologia.
Este discurso hoje impera no mercado promovido por muitos editores inconsequentes que têm praticado a desinformação para a quase totalidade de seus autores, os de grande prestígio claro. Pois para autores sem grande expressividade nada melhor que o eBook, pois nesse caso o discurso muda: “o eBook é a melhor plataforma para testar a obra”…
Assim, de desinformação em desinformação, os autores que vêem seus editores como avalistas confiáveis do mercado estão agora com dois pés atrás com relação ao formato. Isso é senso comum para a maioria dos grandes best-sellers nacionais.
Muitos que já não acreditavam nos eBooks tem suas percepções pessoais alimentadas dado que somam a essas considerações as suas próprias visões do que é, e do que não é leitura. Em geral, são opiniões eivadas de visões retrógradas com relação a formatos digitais.
Mas considero isso como algo normal, pois não é obrigação do autor (ou não deveria) estar sintonizado com tendências, esperando isso como obrigação do seu editor. É sempre bom lembrar que isso (inclusive) é uma das prerrogativas que norteiam o autor a associar-se com uma editora.
EBook (ou seja lá o que isso signifique para você) veio para ficar, pois a tecnologia e conectividade atuais e sem precedentes promovem cada vez mais a disponibilização do formato texto em qualquer hora a e qualquer lugar.
Raciocine comigo: se você consegue o filme e a música que quer na internet, o que dirá de um produto em formato texto? Autores não percebem que o futuro não está lá, está aqui e agora.
Quanto mais a cadeia de valor do mercado editorial – autores, editores, distribuidores e livreiros – ausentarem-se de envitar esforços no fomento ao eBook, mais e mais veremos livros sendo pirateados na internet. Detalhe: se pensam que tais livros estarão em PDFs ou arquivos Word sem formatação enganam-se. Já estão em ePub, bem formatadinhos e livres de DRM.
Seu livro tem sucesso? Não está em eBook? É caro? Não tenha dúvida: é apenas uma questão de tempo o seu livro ser pirateado.
Se os autores não procurarem se informar um pouco mais sobre as reais possibilidades do livro digital, no mínimo verão em curto espaço de tempo suas obras pirateadas em nível global, sem a menor possibilidade técnica de retirada de tais obras da internet.
Os autores devem sair dessa contramão, aceitando passivamente esse tipo de instrução tendenciosa de editores descompromissados sobre o potencial do formato digital e suas possibilidades.
Os novos modelos de negócio no mercado editorial estão aí para quem quiser ver e se os autores continuarem a deixar nas mãos dos seus supostos prepostos editoriais as tais decisões sobre publicação verão cada vez mais diminuídos seus royalties.
É premente que essa mudança de mentalidade seja capitaneada pelos autores.
Eles são os únicos que detém a legitimidade para impor novas formas de pensamento ao mercado.
Pois ao que nos conste, o livro é do Autor e não da Editora.
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