Centro de Porto Alegre, rua Doutor Flores parcialmente no escuro (17/04/2024)

Simplíssimo na enchente em Porto Alegre – atualização 17/05

17/05/2024
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Os escritórios da Simplíssimo, em Porto Alegre, foram afetados pela catástrofe climática que atinge o Rio Grande do Sul. Conforme avisamos nas redes sociais, ficamos sem energia, água ou internet, isolados — sem comunicação. Esta situação perdurou assim, sem alterações, de 03 a 13 de maio.

Esta semana, felizmente, o cenário começou a melhorar. Embora nosso escritório siga na escuridão, já conseguimos retomar as atividades em outro local. Estamos priorizando a conclusão dos serviços pagos/contratados que estavam em andamento. Posteriormente, a partir de 23/05, esperamos retomar também as publicações gratuitas, cadastradas no site nas últimas semanas e pendentes de avaliação ou encaminhamentos.

Aproveitando este contato, gostaria de fazer um pequeno relato e uma reflexão, mesmo ciente que será lido por uma ínfima fração dos 16 mil destinatários desta mensagem.

A velocidade com que a situação se deteriorou em Porto Alegre foi impressionante. Na sexta-feira, 03/05, a vida seguiu normal durante a manhã. Na hora do almoço, o prefeito, alarmado, pediu nos meios de comunicação a evacuação do Centro da cidade. Era surreal, mas os vídeos e as lives da imprensa mostravam a água entrando com força, dentro do Centro, a partir das casas de bomba inoperantes e de uma comporta arrombada pela força da água (e a falta de manutenção, soubemos depois). Minhas preocupações eram prosaicas, o trabalho, a rotina. No sábado 04/05 elas mudaram radicalmente: por quanto tempo teríamos água potável? Quanto tempo ficaríamos sem energia, quantas pilhas e velas havia em casa? E isso não era nada, pois com um teto e roupas secas, eu já era um rei e não sabia. A água tinha tomado conta de um enorme território e chegou a três quadras do prédio onde moro e a uma quadra do nosso escritório. Lá, segue sem energia elétrica até agora e a escuridão à noite só não é completa porque a Força Nacional está hospedada em um hotel a cerca de 200 metros de distância — que opera com geradores.

Centro de Porto Alegre, rua Doutor Flores durante o dia (17/04/2024)

Rua do escritório da Simplíssimo (Dr. Flores) – Centro de Porto Alegre em 17/05/2024

Centro de Porto Alegre, rua Doutor Flores parcialmente no escuro (17/04/2024)

À noite, mesmo local — escuridão completa. (Rua Dr. Flores) – Centro de Porto Alegre em 17/05/2024

Hoje, duas semanas depois, a vida tem uma perspectiva bem diferente para quem está aqui. Talvez não devesse ser assim, mas a forma como vivíamos “normalmente” a rotina urbana comum me parece, agora, uma anestesia, uma cortina que ocultava o que era concreto e real. Vidas, trabalhos, comércios, indústrias, cultivos, criações… muitas coisas, para muitas pessoas, foram completamente arrasadas. Agora que a água começa vagarosamente a baixar, a reconstrução que vem pela frente levará meses para alguns, mas para centenas de milhares de pessoas, serão anos, talvez o resto da vida inteira para quem é mais velho. A cada dia há uma “novidade”. Ontem, por exemplo, os comerciantes de grande parte do RS foram excluídos do marketplace do Mercado Livre, uma das maiores plataformas de comércio online no Brasil, pois não há condições logísticas para se enviar ou receber produtos em grandes quantidades. Sem poder vender online, algo essencial, muitos comerciantes dispensarão funcionários… cortarão compras… a cada colapso seguem-se outros, que geram outros, num encadeamento incessante… faltam produtos básicos nos mercados durante dois ou três dias, e depois (felizmente) eles aparecem. Sem estradas, sem porto, sem condições logísticas, o fornecimento será intermitente e incerto por muito tempo. Uma sensação de incerteza permanente vai permear aspectos da vida que antes pareciam totalmente garantidos. Vai ser difícil trabalhar, competir e sobreviver neste contexto, mas é o que temos daqui por diante.

O Rio Grande do Sul se tornou mais um experimento vivo do que acontecerá em outros lugares no futuro. Eu não gostaria que ninguém mais vivesse o que viveremos aqui, mas falta ação concreta para termos um estilo de vida menos artificial, menos descartável, que minimize a interferência da vida humana sobre o funcionamento normal do planeta, que evite outras catástrofes por aí. E não penso apenas nos governos, nas instituições, penso na ação concreta das pessoas, individualmente mesmo. No meu prédio residencial, onde sou síndico, temos um espaço muito prático e organizado para a separação do lixo reciclável. Pouquíssimas pessoas separam o que é reciclável. Algo tão básico, tão simples, tão fácil… por que não fazer? Preguiça? Ignorância? E isso vale para muitas outras coisas. As nossas pequenas ações importam, sim. É preciso sair da anestesia. Quando a água para beber se torna escassa, ela vale ouro — mas deveria ser ouro sempre. É preciso pensar mais seriamente nessas coisas antes de ficar sem infra-estrutura, sem água — todos nós deveríamos. E depois de pensar, agir. Tenho 42 anos. Meu filho e os filhos dele não viverão no mesmo planeta em que nasci e cresci. Gostaria, então, que os livros de História do futuro descrevessem as pessoas da nossa época como as primeiras a fazerem algo concreto para melhorar esse estado das coisas — e não como as últimas a fazerem nada…

Deixo meu agradecimento às pessoas que apoiam nosso Estado, em qualquer capacidade — doações, orações, palavras de apoio. Muito obrigado. Lembraremos sempre, iremos retribuir no futuro.

 

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  1. Obrigado pelo seu relato, Eduardo, ele é muito importante. Não, mais que isso. É fundamental. Personificar esses eventos ajuda a colocar as coisas em perspectiva para quem não estava lá. Espero que tenhamos todos a fortaleza de entendermos a gravidade da situação. Porque, se isso não acontecer, tragédias como a do nosso estado irmão serão eventualmente o padrão em todo lugar.

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