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Tensão, ou Tesão pré-Amazon?


Saiu no último caderno Link, do Estadão, matéria com o título “Tensão pré-Amazon”. Será que “tensão” expressa corretamente os sentimentos gerais do mercado?

Em 2010, realmente, existia um clima de tensão. Durante o 1º Congresso do Livro Digital da CBL, em março daquele ano, o diretor de uma grande livraria disse, com todas as palavras, que se a Amazon chegasse (naquela época) ao Brasil, e uma editora vendesse livros com eles, no dia seguinte os livros impressos da editora estariam fora das prateleiras. Aquilo sim, foi tensão pura! O ar ficou pesado.

Hoje a coisa está mais assentada. O que era preocupação, virou motivação. Editores pequenos e médios não sentem medo da Amazon. Sentem excitação. Muitos entram em contato com a Simplíssimo em busca de respostas para questões práticas, a maioria na linha do “Como faço para entrar nesse mercado?”. As grandes editoras, por sua vez, esperam pela Amazon com a languidez de Gabriela: vão amar aquele tio gringo, quando ele fizer uma oferta decente, claro; e não esquecerão quem sempre ajudou elas. As grandes livrarias trabalharam nos bastidores e conseguiram, em algumas ocasiões, conter as editoras de aceitarem as propostas da Amazon. Ganharam tempo para se preparar e já sabem o que vem por aí. E todos tiveram chance de assistir, de camarote, às mudanças no mercado americano com o crescimento vertiginoso dos eBooks. Puderam captar como funciona o duríssimo jogo da Amazon, que agora chega ao nível da concorrência direta com as editoras – a Amazon abriu uma editora própria, com nomes consagrados nas capas e créditos dos livros.

Lendo a matéria do Estadão, o único setor que estaria em estado de ansiedade são as pequenas e médias livrarias:

Kater, vice-presidente da ANL, acredita que a salvação das pequenas e médias livrarias está na oferta de serviços, de um melhor relacionamento com o cliente, atendimento personalizado e na aprovação da lei de um preço único para lançamento, evitando práticas anticompetitivas de mercado. “Se as livrarias entenderem que não venderemos mais só livros, mas serviço, pode deixar a Amazon vir”, diz.

A chegada da Amazon fará o mundo acabar para as pequenas e médias livrarias, a ponto de se falar em “salvação” delas? No exterior, isto está acontecendo em alguns países, como EUA, França, Inglaterra. Mas no Brasil? O país tem algumas particularidades, lembradas na matéria pelo presidente da Saraiva, que paradoxalmente são um problema e também uma proteção:

“Tem muito livro físico para se vender no Brasil para podermos discutir se o digital vai ser mais importante. (…) Ela vai ter de competir com todos nós, que já temos experiência com o Brasil. Vai ter de lidar com rua esburacada, tributos, deficiência dos Correios, malha logística insuficiente. Por isso digo que o serviço de entrega da Amazon não vai ser melhor do que o do resto do mercado.”

(A ineficência e a desorganização do Brasil ajudam as empresas nacionais a competir com as estrangeiras… que ingenuidade, eu achava que a culpa fosse dos políticos. Não minha.)

Enfim, quando a palavra “tensão” aparece na manchete parece que a eterna chegada da Amazon começou a ficar banalizada. O Carlo Carrenho, escrevendo no seu blog semana passada, ironizou as manchetes sobre a chegada da Amazon.

Deu na Reuters: “A Amazon planeja abrir sua loja digital de livros no Brasil no quarto trimestre de 2012”. A matéria assinada por Esteban Israel foi publicada em jornais brasileiros como O Estado de S.Paulo, sob a manchete Amazon deve chegar este ano ao País. (…) O texto é bom e respeita as boas regras do jornalismo, mas não traz nenhuma novidade. Como a jornalista Raquel Cozer ironizou em seu twitter, “‘Amazon chega ao Brasil neste ano’ já é um título impactante como ‘Estradas têm tráfego intenso na volta do feriado'”. E a causa desta falta de novidades é o fato de a Amazon se recusar a falar com a imprensa (…).

Brincadeiras à parte, é a mais pura verdade. Até as pedras já sabem que a chegada da Amazon representa um marco para os negócios da área digital no Brasil, com reflexos nos negócios de todo o mercado editorial. Ficou repetitiva essa coisa de “Amazon chega no Brasil”, Amazon gera tensão, como se tivesse alguma novidade nisso. Alguém lembra daquela época, não muito tempo atrás, em que todas as matérias jornalísticas sobre eBooks começavam perguntando “o papel vai acabar”? Pois é. Chegou o momento de trocar o disco outra vez.

(Para ver a matéria completa do Estadão sobre a Amazon, leia Tensão pré-Amazon – Link Estadão – Cultura Digital – Estadao.com.br)

 

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