Existem diversos modelos de negócios para utilização de ebooks em bibliotecas. Como o mercado ainda está em busca de estabilidade, algumas formas são oferecidas, com um mesmo fornecedor podendo utilizar variadas possibilidades de comercialização. Os modelos existentes atualmente são aquisição perpétua (tema da coluna de setembro de 2013), assinatura, PDA / DDA ou patron / demand driven acquisition (aquisição direcionada pelo usuário / demanda), STL ou short term loan (aluguel por período curto), pay-per-view e auto publicação.
É importante identificar quem são os fornecedores de ebooks e o tipo de serviço que oferecem. Basicamente existem cinco tipos de fornecedores: os editores, os agregadores de conteúdo, os distribuidores, as lojas virtuais (varejo) e os próprios autores.
Os editores são os responsáveis pelas obras editadas. Podem realizar venda diretamente às bibliotecas ou oferecer suas obras a agregadores, distribuidores ou lojas virtuais. São empresas comerciais, profissionais do mercado do livro. Ao comprar diretamente de editores, a biblioteca elimina a figura do intermediário, podendo negociar melhores preços. Alguns editores, além de ebooks, podem oferecer conteúdo de periódicos, o que é interessante aos bibliotecários. Diversas universidades têm selos editoriais e algumas bibliotecas têm aderido a este movimento, permitindo a comercialização – e posterior uso, sem restrições de acesso – de títulos institucionais. Ao adquirir obras diretamente dos editores, as bibliotecas precisam firmar contrato com diversos fornecedores, cada um com suas condições de uso, o que exigirá gestão e controle por parte dos bibliotecários. Existem editores que se negam a vender diretamente para bibliotecas, tendo seus títulos disponíveis apenas através de agregadores e distribuidores. Ao adquirir de editores e, de acordo com o modelo de negócios contratado, os arquivos podem ficar com a biblioteca ou na nuvem, com controle do fornecedor e serão acessados somente através de plataformas proprietárias, que controlam o acesso através de DRM (Digital Rights Management).
Os agregadores de conteúdo são empresas que representam diversas editoras e oferecem praticamente todos os modelos de negócios existentes. Eles licenciam os conteúdos de diversos fornecedores e os disponibiliza através de sua própria plataforma. O tipo de acesso e os serviços oferecidos aos usuários são refletidos nos valores dos contratos. Ao negociar com um agregador a biblioteca vê-se lidando com um único fornecedor que proporciona acesso a obras de diversas editoras. Por ter grande quantidade de títulos, os preços costumam ser atraentes. Os agregadores normalmente dispõem de metadados para incluir os registros nos OPACs, além de possibilidade de integração com serviços de descoberta. Este ponto é muito importante quando a assinatura pode conter centenas de milhares de títulos. Se a biblioteca for cadastrar os ebooks manualmente – ou mesmo por importação através de fontes idôneas -, não terá terminado de cadastrar todos os registros quando finalizar o período assinado. Por outro lado, existem alguns desafios. Os agregadores não mantém contrato com todas as editoras, portanto pode ser necessário ter contrato com editores ou outros agregadores para oferecer determinados títulos. Por lidarem com grandes volumes de obras, o espaço para negociação de valores é limitado. Caso a biblioteca opte por realizar a aquisição perpétua de alguns títulos, o valor individual das obras pode ser mais elevado que o comparado com a compra através do editor. Os agregadores costumam fechar com as mesmas editoras, portanto é comum que obras iguais sejam oferecidas por fornecedores diferentes. Esta situação é identificada como obras concorrentes. Ao deparar-se com esta situação a biblioteca necessita ter um forte controle do uso que é feito dos ebooks assinados por agregador, para tomada de decisão no momento da renovação da assinatura, avaliando a quantidade de acessos simultâneos, preços para aquisição perpétua, possibilidade de impressão (total e/ou parcial) etc.
Os distribuidores são semelhantes aos agregadores, com a diferença que a ferramenta de acesso utilizada é do editor, visto que eles não possuem plataforma proprietária. Os distribuidores são intermediários entre as bibliotecas e as editoras e também trabalham com os modelos de negócios existentes ao permitir realização de assinaturas, aquisição perpétua, PDA, STL etc. Da mesma forma que os agregadores, os distribuidores permitem que as bibliotecas tenham acesso a obras de diversas editoras através de um único contrato. Costumam ser mais flexíveis nas negociações e também oferecem grande quantidade de títulos. Os distribuidores, por outro lado, nem sempre conseguem oferecer acesso simultâneo das obras assinadas, limitando ao acesso monousuário. Alguns, em semelhança com algumas lojas virtuais, oferecem ferramenta para realização do empréstimo digital (e-lending). Normalmente os arquivos assinados ficam com o fornecedor na nuvem e para aquisição perpétua podem ser baixados aos servidores da biblioteca.
As lojas virtuais podem ser fornecedoras para bibliotecas, porém as possibilidades de assinaturas são limitadas, priorizando a aquisição perpétua, com acesso monousuário aos ebooks. Normalmente realizam convênios com bibliotecas e permitem que seus usuários aluguem livros através de identificação e confirmação do vínculo do leitor com a biblioteca, em ferramentas de empréstimo digital. Esta possibilidade não é presente no Brasil, porém ocorre com frequência nos Estados Unidos, principalmente com a Amazon. Ao adquirir obras por lojas virtuais os arquivos são armazenados no servidor da biblioteca e não na nuvem. Se optar por empréstimo digital, o usuário faz o download da obra e terá acesso a ela por um período determinado. O uso de plataformas proprietárias é constante e, no caso da Amazon, possui, além dela, um formato exclusivo: os ebooks adquiridos desta loja são do formato AZW e apenas são acessados através do Kindle (qualquer geração) ou de aplicativos para tablets, tanto IOS quanto Android, além do DRM.
Os autores são outra possibilidade de fornecedor. O fenômeno da auto publicação tem sido bastante discutido, mas não está claro se pode ser considerado como um novo modelo de negócios. Se os autores oferecem suas obras para livrarias virtuais (com diversos autores brasileiros disponibilizando suas obras na Amazon), ou realizam a venda direta às bibliotecas, com a obra aderida ao Creative Commons, gratuita ou a preços baixos, não se pode assumir que este seja um novo modelo de negócios, visto que também podem utilizar o modelo do fornecedor onde o arquivo estiver hospedado, como agregadores, distribuidores ou lojas virtuais. Na auto publicação o autor passa a assumir o papel do editor, negociando suas obras diretamente aos interessados e recebendo remuneração maior se comparado com os valores praticados pelas editoras. Por outro lado, esta autonomia pode representar em perda de qualidade das obras, uma vez que não existe um editor participando do processo. Outro fator importante é a ausência de estrutura, com o próprio autor sendo o responsável pela divulgação de seu trabalho. Tampouco os autores têm clareza da importância de bons metadados para descrever a obra, fator este que se mostra determinante para a encontrabilidade de uma publicação e sua consequente aquisição. Apesar destas questões, a auto publicação tem crescido bastante no mercado. Às bibliotecas cabe o desafio de localizar estas obras – o que normalmente ocorre por indicação de usuários, professores ou dos próprios autores e incluí-las nos acervos. Quando a compra é realizada diretamente através dos autores, normalmente o arquivo é baixado em dispositivos de leitura ou nos servidores da biblioteca, com acesso monousuário.
É importante salientar que, independente do modelo, algumas questões devem ser identificadas ao contratar fornecedores de ebooks. O fato de trabalharem com plataformas proprietárias determina o uso que será realizado do ebook, quantidade de acessos contratada (monousuário, multiusuário ou ilimitado) e os serviços oferecidos aos usuários (impressão total ou parcial dos conteúdos).
Dependendo do modelo de negócios contratado, pode ocorrer alteração dos títulos adquiridos ou licenciados, com inclusão, atualização ou remoção de obras. Este fator pode ser positivo ou negativo, dependendo da biblioteca e das necessidades de informação de seus usuários.
Alguns fornecedores estão oferecendo metadados no formato MARC para que as bibliotecas possam incluir os registros em seus catálogos (OPACs – Online Public Access Catalogue), proporcionando aos leitores um único local de consulta, tanto de livros impressos quanto eletrônicos. Por outro lado nem sempre a qualidade dos metadados está alinhada com a política de descrição adotada pela instituição.
Não é interessante não incluir os ebooks assinados ao catálogo da biblioteca, visto que isso dificulta a localização dos títulos pelos usuários, além de obrigar que a pesquisa seja realizada em diversos ambientes. Caso a biblioteca opte por permitir a descoberta dos ebooks somente pela plataforma do fornecedor, os usuários podem desvincular os ebooks das bibliotecas, o que não é favorável, uma vez que desvincula os ebooks do acervo oferecido.
Como cada fornecedor tem a sua plataforma, caso a biblioteca opte por não centralizar a descoberta no OPAC, deve se preocupar em capacitar seu staff e da comunidade usuária na utilização de cada ferramenta, sempre lembrando que os critérios e refinamentos de busca são variados. Alguns fornecedores cobram taxas anuais para utilização da plataforma.
Nem todo o lançamento em formato digital é oferecido para comercialização às bibliotecas. Algumas obras passam por um período de “quarentena” (embargo) da versão digital garantindo venda da versão impressa. Nestes casos o livro digital é comercializado no varejo ao público geral, proporcionando garantia às editoras que este título alcance uma boa vendagem de exemplares antes de tornar-se disponível nos acervos.
As bibliotecas têm diversas opções de fornecedores e é importante saber o que cada um pode oferecer em termos de quantidade de títulos, tipo de acesso, plataforma utilizada, DRM, formato dos arquivos, metadados em MARC, integração com serviços de descoberta etc. Apesar de ainda não termos no Brasil uma quantidade expressiva de fornecedores, já podemos contar com alguns, tanto empresas internacionais oferecendo seus recursos, quanto brasileiras, impulsionando a oferta de títulos em português. Apesar de ainda não recorrente por aqui, nos Estados Unidos as bibliotecas, principalmente universitárias, estão enfrentando dificuldades por manterem contratos e adquirirem conteúdo digital de diversos fornecedores, exigindo que a biblioteca tenha um rigoroso controle de utilização dos recursos, orçamento e funcionalidades oferecidas, pois estes aspectos devem ser mensurados no momento de uma nova aquisição ou renovação. Estes novos desafios podem ser encarados como impulsionadores aos bibliotecários ao lidarem com rotinas de gestão, até então relegadas a segundo plano em detrimento das questões técnicas, inerentes da área. É um momento de mudança no papel do bibliotecário como um gestor de conteúdo, físico e/ou digital, e a oferta de serviços que suas unidades de informação proporcionam aos usuários da comunidade atendida.
Liliana, você sempre atualizada e com uma visão séria sobre o assunto
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