A esmagadora maioria dos eBooks, no Brasil, ainda vendem pouco. Não importa quem os publica, se autores independentes ou grandes editoras – as vendas são fracas. Os “culpados” pelas vendas fracas costumam ser vários: a falta de uma base consistente de dispositivos (ereaders ou tablets) no país; o preço dos eBooks, que seria muito alto; a dificuldade para se comprar e baixar um ebook nas lojas brasileiras; e a quantidade pequena de ebooks em português à venda – até um tempo atrás, reconheço, meu principal suspeito.
Nenhum desses problemas, porém, impediu que dezenas de milhares de pessoas adquirissem os eBooks da série “50 tons”. Até dezembro de 2012, venderam mais de 53 mil cópias no Brasil e entraram 2013 no topo das listas da Kobo, Saraiva, Apple… o último eBook tão lucrativo, de que se tinha notícia, tinha sido a biografia de Steve Jobs – que vendeu alguns milhares de cópias lá em 2011, uma época em que as palavras “lucro” e “ebook” não encaixavam na mesma frase. Nenhum desses problemas impediu 300 pessoas de comprarem, na mesma semana, um ebook com poemas de Mário Quintana. Poesia vendendo em ebook? É coisa do outro mundo, você pensa.
O leitor já está com o argumento na ponta da língua: ora, esses ebooks venderam muito, porque as edições impressas tiveram um tremendo investimento de marketing, exposição na mídia, redes sociais, etc. E isso terminou se refletindo nas vendas digitais. Mas acontece que esse resultado oferece outras evidências, mais sutis.
Sinaliza que já temos um público consistente que adquire ebooks. Esta é a boa notícia. Há milhares de pessoas munidas de aparelhos, principalmente tablets, querendo comprar e ler digital. Talvez este público seja majoritariamente feminino, levando em conta o sucesso de 50 tons. Seja como for, certamente é um público diversificado, somando os compradores de 50 tons com os “pioneiros” da biografia de Jobs, basicamente fãs da Apple e early-adopters de tecnologia. Há espaço para todos venderem bem.
A má notícia? As velhas justificativas para as vendas baixas, caíram por terra. Se um livro é bom, mas vende pouco no digital, são enormes as chances de que os leitores digitais ignoram a existência do ebook. Se o problema fosse preço alto, poucos aparelhos no Brasil ou dificuldade para comprar, nenhum ebook poderia vender milhares de cópias. Mas uns poucos, vendem. E nestes casos, isso ocorre quando alguém vai atrás do consumidor, dá a dica do digital para ele. Quantas editoras estão fazendo isso? Quase nenhuma. Não é de graça que as vendas digitais ainda são insignificantes para a maioria delas.
A Intrínseca não vende dezenas de milhares de eBooks de 50 tons, apenas como reflexo do bafafá da mídia sobre o conteúdo do texto. Recentemente a editora organizou um chat público entre a sua equipe de produção de eBooks e os leitores, para tirar dúvidas e ouvir opiniões sobre seus eBooks. Também publicaram um vídeo bacaninha mostrando, com humor, as diferenças entre os livros digitais e os impressos – com direito a analogias sobre a convivência harmoniosa entre pessoas diferentes. Tempos atrás, a Intrínseca também lançou alguns eBooks de uma coleção jovem por preços módicos (abaixo de R$ 5, se me recordo bem). Enfim, ações concatenadas, divulgando e vendendo os ebooks da editora, mostrando que são mais baratos, que funcionam, são legais e da moda etc… ter um produto bom ajuda, mas até o melhor produto do mundo ficaria encalhado, se ninguém falasse nele. Especialmente um produto digital.
Não existe mágica, nem sorte, nem dia bom e dia ruim. Existe o dia em que você vende o seu peixe, e o dia em que você também vende o seu peixe. No digital, a feira abre todos os dias, em qualquer horário. Se você não está vendendo o seu peixe, deveria estar planejando como vender. O peixe nunca se vendeu sozinho. Quem não divulga, nem planeja, é como se não existisse.
Se você quiser conhecer em mais detalhes as minhas ideias sobre marketing para ebooks, irei falar sobre isso no curso Estratégias de Marketing para eBooks, que acontece em São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre, no mês de março/2013.
Bom dia a todos.
Concordo com tudo e gostaria de acrescentar mais alguns dados. Fui o primeiro jornalista a lançar um ibook nas lojas da Apple depois que a empresa disponibilizou o IBooks Author. O livro “Guia do Mochileiro40tao apresenta Veneza” é distribuído gratuitamente e, desde fevereiro do ano passado, venho acompanhando o seu desempenho. Assim que foi lançado, enviei release para os sites da área e, ao ter a notícia publicada, consegui mais de 400 downloads num único dia, a maioria da loja americana do iTunes (a loja brasileira ainda não estava operando). De lá para cá, já ultrapassei 7000 downloads das 3 versões do ibook (inglês, português e espanhol). Percebi que, nos últimos meses, os mesmos sites que publicaram o meu release, não abrem mais o mesmo espaço. Acredito que, devido ao aumento de oferta de títulos, os sites estejam filtrando ou selecionando os lançamentos.
Sugiro que o Revolução Ebook lance uma página de lançamentos da semana ou um top10 semelhante ao da loja iTunes em todas as categorias. Abs.
Eduardo, o atendimento no brasil é horrível. Mandei um email para a editora Novo Século, perguntando quando o livro a Casa Infernal de Richard Matheson, e pra editora Record, sobre o livro Walking Dead, O caminho para Woodbury, quanto teriam versões digitais e nunca obtive resposta. Com esse marketing, que não é marketing, descaso com o consumidor, não dá vontade de consumir mesmo.
Verdade, Rogério, eu tive o mesmo atendimento ao tentar falar com a Editora Rocco sobre a publicação da coleção da clarice lispector em e-books.
Não há marketing que dê jeito no mercado editorial brasileiro. Os preços praticados por aqui são extorsivos. Um exemplo da hora (esses exemplos se sucedem no tempo):
Obra: A Alemanha Nazista e os Judeus (Ed. Perspectiva). Editada em dois volumes: preço total R$ 235,00 (os dois volumes – http://www.editoraperspectiva.com.br/index.php?apg=cat&npr=979)
O mesmo livro (em volume único e em inglês) na Amazon.com
U$ 15,71 (paperback)
U$ 10,90 (kindle – http://www.amazon.com/Nazi-Germany-Jews-1933-1945-Abridged/dp/0061350273/ref=sr_1_4?s=books&ie=UTF8&qid=1360032720&sr=1-4&keywords=saul+friedlander)
Não há como justificar essa disparidade de preços.
Eu comprei em janeiro um e-reader Kobo, na Livraria Cultura. Estou maravilhado com a possibilidade de portar em apenas 185g todas as minhas leituras de preferência. Concordo com o que foi abordado no post, mas também acredito que há dois segmentos distintos. Se os livros forem muito ilustrados ou onde a poesia e o jogo de cores forem parte da poesia do autor, os livros eletrônicos certamente deixarão a desejar, pois os e-readers ainda não são coloridos. Portanto, um livro feito para o público infantil não venderá no preto e branco do Kobo. A tela do e-reader é boa, mas o fundo ainda é cinza, o que nos faz lembrar uma folha de jornal.
Até o presente momento, eu ainda não comprei um e-book. Todos os que eu li até agora foram gratuitos pelo exato motivo de que eu estou fazendo experiências. Nos muitos livros que eu testei, não pude aumentar o tamanho das letras e a formatação não ficou muito agradável. Eu acredito ainda que as livrarias devem se perguntar quem serão os potenciais leitores. É uma frase tola da minha parte, porque é o mesmo que dizer para um pedreiro que cimento existe. Entretanto, as editoras tem de se perguntar se desejamos apenas ler o conteúdo ou fazer uso de imagens didáticas. Então, para o leitor que vive apenas de textos como historiadores, filósofos, psicólogos, estudantes de letras e similares, poderão se beneficiar. Mas e aqueles que precisam de imagens. Não diz o ditado que uma imagem vale por mil palavras? Estamos num período de transição. A semente foi lançada e o futuro é esperar para ver. Mesmo assim, quero deixar um exemplo concreto, que sou eu mesmo, e estou portando atualmente 206 livros em meu Kobo. Tão logo eu compre meu primeiro e-book, voltarei aqui e comentarei as minhas impressões, especialmente sobre a formatação, que, para mim, tem sido um fator limitante.
Amigo, mesmo para PDF é possível aumentar o tamanho das letras (apenas sendo diferente, sendo um zoom maior, e não aumento propriamente das letras). Acredito que não tenhas descoberto onde. Procure se informar.