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Ebook só Vende se For Quase Grátis?


Um dos aspectos que tenho visto ser discutido apaixonadamente nos fóruns relacionados às mudanças no mercado editorial que ainda se farão sentir de modo mais claro do que hoje, em função dos ebooks, é o preço do livro. Há ainda muito rumor em torno dos ganhos ou da ameaça da pirataria, a decisão de produzir ou não em mais de um formato – papel e digital – e uma infinidade de perguntas em aberto sobre o tema.

Desviemos um tanto o assunto. Suponhamos que você é adulto, independente do ponto de vista financeiro, e balança afirmativamente a cabeça com o refrão do Titãs “a gente não quer só comida, a gente quer bebida, diversão e arte” (além da saída para qualquer parte, claro). Digamos que cultura, para você, é mais do que um vocábulo empolado que entulha os segundos cadernos. Quanto você se disporia a pagar para: a) assistir, confortavelmente, seu cantor(a) / banda favorito(a), digamos, num teatro?; b) assistir ao mesmo show num grande estádio de futebol, correndo o risco de levar uns empurrões?; c) aproveitar o recolhimento da sua casa para assistir o show em DVD ou Blu-Ray?

Não estou discutindo aqui a opção daqueles que preferem não sair de casa e não enfrentam problemas com sua consciência ao optar pelo download do show ou daqueles que se satisfazem com o que encontrarem de modo gratuito em MySpace e similares. Então, delimitado o cenário, permito-me a inferência de que o preço que você se disporia a pagar por esses diferentes “produtos”, ainda que da mesma banda / artista, seria diferente.

Agora, voltemos aos livros, sem nos restringirmos à correlação linear com o exemplo acima: para mim, que prefiro blues ou MPB ao heavy metal, ver um show no teatro seria a melhor opção e eu compararia à experiência de ler um livro em capa dura numa edição muito bem cuidada ou um ebook bem produzido armazenado no melhor eReader disponível no mercado (mas se você prefere rock e não se importa de ler no computador ou num tablet, faça as devidas adaptações). Parece lógico que o custo e o valor das diferentes alternativas não é igual? Veja que o custo de montagem de um show com um artista que pode ter vindo de longe, ter toneladas de equipamentos de som a serem transportados, será o mesmo, mas o valor do ingresso para cobrir estes custos (ok… sabemos que há casos em que outras entradas de recurso cobrem ou ajudam a cobrir os custos, mas deixemos isso de lado por agora) será diferente se eu tiver x expectadores ou 150x. Ou seja, independente do local onde se dá o show – teatro ou estádio, há custos obrigatórios. Com livros é o mesmo, ainda que o local (livro impresso ou ebook num eReader ou onde quer que seja) seja diferente, há uma preparação que precisa acontecer, e ela tem um custo. E mesmo que páreça óbvio que estes custos são diferentes, não são da proporção de 100 para 1.

Avançando um pouco, há o componente intangível do valor atribuído à obra, seja ela de cunho técnico ou ficcional. Prefiro falar do ficcional, porque embora tenha sempre tido fama de “cdf”, nunca gostei de investir em leitura técnica. O conteúdo do livro, no caso da ficção, é arte. Como se atribui valor à arte? Não tenho conhecimento para tecer considerações aprofundadas sobre o que determina o valor de uma tela, por exemplo, e sei que não se tratam de situações perfeitamente comparáveis, pois livro, embora arte (pelo conteúdo), tem produção em escala, Miró não.

Complicando ainda um pouquinho esse cenário, há, eu nem diria excesso, mas abundância de oferta de conteúdo gratuito nesse campo (não me estenderei sobre estatísticas de blogs de pretensos e autênticos escritores ansiosos por mostrar ao mundo seu talento além de portais e revistas literárias, algumas muito boas, aliás…).

Por quê, então, o leitor (cliente) pagaria por um livro que não é, segundo avaliações mais apressadas, algo concreto? Parece que muitos têm se batido com isso e algumas soluções que parecem casar com essa visão já surgem. Mas e se houver outros olhares? O público que costuma gastar com cultura, que vê valor para além dos custos, se procurar algo para consumir, encontrará? E o terá em abundância e com qualidade? E já consideramos e pensamos em soluções para o fato de que nem sempre esse consumidor é também alguém afeito aos aparatos que o ebook requer para seu melhor aproveitamento? Muitas interrogações? Eu tenho muitas mais, e você?

 

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  1. Proveitosas reflexões.

    Há que considerarmos vários pontos do artigo, sob óticas distintas, visto as experiências e a visão que cada um tem dos mesmos, serem distintas e pessoais.
    Há que respeitarmos tudo!

    Como sempre existiu (e existirá sempre), há os que estão à frente da maioria, que se posicionam e assumem os riscos de experimentarem e serem experimentados pelo “novo”, pelo o que ainda será ‘comum’ e cairá no gosto popular.

    A maioria das pessoas que conheço, físicas e virtuais, fazem cara de desgosto quando lhes pergunto quantos, e quais livros (impressos ou digitais)compraram no último mês. Algumas dizem: pra que vou comprar o digital, se tem um monte de pessoas disponibilizando-os na Web?

    Pergunto-lhes se estariam dispostos para pagarem, por exemplo, R$ 40,00 por um e-Book? As respostas vão desde “eu não tenho ainda um E-Reader”, “eu ainda não me acostumei a ler na tela do PC”, “eu não leio nada em inglês”, “eu não acho disponível para comprar os livros digitais que quero”, etc.

    Creio que a coisa “ainda” não pegou ‘força’, mão levantou ‘voo’!

    Entre tantas coisas que você ponteou aqui, por exemplo, os e-Books “gratuitos” e distribuídos à revelia, existem também: a preguiça, a falta de costume para a recepção/percepção das leituras, e a ‘delicada’ questão das preferências (entre muitas outras, obviamente).

    – Parabéns, gostei de ler teu artigo!

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