Eduardo Melo, diretor-executivo da Simplíssimo, está em Frankfurt acompanhando as conferências sobre ebooks – Publishers Launch e TOC.
Compartilho com vocês minhas anotações aqui neste evento em Frankfurt. Há várias atividades sobre eBooks e a de hoje foi a conferência Publishers Launch, que é uma séria de conferências patrocinadas pelo site Publishing Perspectives e co-organizadas pelo Mike Shatzkin (traduzido no Brasil pelo pessoal do PublishNews).
Não serão objetivas como as de um jornalista, mas tenho certeza que serão úteis! Procurei ser fiel ao que os panelistas apresentaram.
Michael Cader, Publishing Perspectives: expectativa de crescimento mais rápido do mercado de eBooks ao redor do mundo, uma vez que a infraestrutura tecnológica do mercado já está construída e não precisa ser desenvolvida a partir do zero nos outros países.
Giovanni Bonfanti, A.T. Kearney; Marco Ferrario, Bookrepublic
Apresentam dados de pesquisa realizada com 40 key players e dados públicos sobre eBooks. Ásia é o segundo maior mercado, Coreia do Sul à frente. América do Sul “negligible”. Penetração do mercado de eBooks:
Penetração dos eBooks é esperada para crescer em velocidades variadas, dependendo de:
Primeira onda de Early Adopters: Reino Unido, Canadá, Coreia do Sul. Segunda onda: Alemanha, França, Itália. Latecomers: Índia, América do Sul.
Mike Shatzkin provocou os participantes do painel com várias perguntas sobre participação do mercado, expectativas de crescimento e expectativa com a reduzida quantidade de conteúdo nas línguas locais vs. grande conteúdo em inglês.
Sérgio Machado, Record: o mercado de eBooks deve começar em três anos no Brasil. Os players do mercado entraram no mercado mais para se defender do que para desenvolver o mercado. Segundo Sérgio, um grande player local deverá fazer um acordo com a Barnes & Noble para usar o know-how deles e contrapor a chegada da Amazon. Amazon virá ao Brasil, mas apenas para vender eBooks, não livros físicos – diferentemente do mercado americano. Conteúdo vendido em inglês não será muito relevante.
Joe Li, Apabi Technology Limited – China: Mercado na Ásia está em crescimento há três anos. Amazon está na China. O mercado chinês será complexo por ser um mercado não completamente aberto, ainda regulado pelo governo.
Ricardo Cavallero, Itália: Ainda inexistente, espera o mercado funcionando em 2015. Vendem atualmente 1.050 eBooks por dia. Não acredita que haverá muitos players locais, é um mercado para poucos players (especialmente as livrarias/distribuidoras). Os números do mercado de eBooks são como uma religião: você acredita em um número, ou não. Sobre os aparelhos, a questão não é se o mercado será dominado por tablets ou eReaders – mas se quem vende o conteúdo será capaz de sincronizar este conteúdo nos variados aparelhos que existirem, independente da opção de aparelho do leitor. Agentes são mais conservadores que as editoras. Mondadori vende eBooks a 50%~60% do preço do livro impresso. Conteúdo em inglês será mais vendido, com a maior oferta de eBooks nesta língua, mas Ricardo não acredita que os números serão muito expressivos.
Michael, Alemanha: Acredita que os tablets irão dominar completamente o mercado em 10 anos, eReaders são muito caros comparativamente. A maior parte do conteúdo de mídias na Alemanha é traduzido, também não acredita que a maior oferta de eBooks em inglês gerará um aumento no consumo de eBooks nesta língua.
Santiago de la Mora, Director, Print Content Partnerships Europe, Middle East and Africa
Uma apresentação das coisas que o Google já fez até agora, sem maiores novidades. Bastante hesitante a apresentação – o que dá mais ou menos o tom do Google com relação ao mercado de eBooks.
Muito importante, não muito difícil (mas também não é muito fácil). Requer um líder para este processo, um time executivo capaz de levar o processo adiante.
Coisa mais básica: Word Styling. Processo velho: manuscrito com instruções na página, time de produção interpretava, ia para um diagramador, voltava para revisão, retornava para o designer, ia para o editor…
Word-styling: Usar recursos de um menu de estilos no programa de edição para padronizar o processo de produção/diagramação dos livros para ganhar dias na produção. Padronização de estilos no Word, o Indesign pega os estilos de forma automática, economiza tempo. Elimina terceiros da produção, diminui o tempo de produção de dias para horas, produto final mais limpo.
Desafios: Empregados que não aceitam mudar processos, treinar e retreinar o tempo todo, InDesign 4 não fazia isso direito.
Workflow para eBook: Diagramador (ele chama de page specialist) exporta eBook no InDesign, especialista em eBook trabalha nele, executa controle de qualidade (2 níveis), gera versões finais dos arquivos.
Well-formed document: Um documento em que cada caractere é identificado e para o qual foi indicado um estilo XML adequado. Classificar o texto como ele “é”, não como ele parece: itálico representa citação, e parágrafo à esquerda representa primeiro parágrafo, por exemplo. Programar XML através de programadores, ou através de scripts de terceiros. Único serviço terceirizado da Sourcebooks é o fornecimento de scripts em XML.
Workflow XML: Marcar o texto com XML, diagramador passa para o InDesign usando XML, 2 horas para ter páginas impressas prontas. A partir do InDesign, o especialista em eBooks exporta do InDesign e demora 2 horas para gerar um ePub, PDF e Mobi. Elimina fornecedores para eBooks, reduz a criação de semanas para horas e elimina a maioria dos erros.
Desafios: XML tagging precisa ser MUITO eficiente. É preciso ter scripts muito funcionais, muitos testes e constante atualização. Não é dificil, mas também não é fácil (e pode ser assustador). Não é tão caro quanto parece – a economia em tempo de trabalho compensa para eles, o tempo que sobra é usado para produzir mais livros. Com XML no workflow, o céu é o limite – é segundo ele, muito mais fácil fazer isso agora, antes de entrar no mercado digital, do que depois.
O workflow é todo montado a partir do InDesign 5. Originais dos textos são passado para XML a partir do Word. Word para PC enfrenta menos problemas com XML do que nas versões para MAC (há recursos de XML no Word, que funcionam no PC, mas não no Mac!).
15 bilhões de dólares em mídia, metade dos negócios totais.
“Ainda estamos muito longe” – visão da Amazon em cumprir a sua missão de vender eBooks em todos os lugares, em todas as línguas, entregar em até 60 segundos.
Consumidores do Kindle compram 3 vezes mais livros (impresso + digital) do que antes de possuírem o Kindle. Válido para consumidores tanto dos EUA, como britânicos e alemães.
Brasil é citado nos exemplos: “ah, uma pessoa no Rio pode comprar um eBook da mesma forma que nos EUA, etc.”
Milhões de livros em inglês sendo vendidos em países que não tem inglês como língua nativa.
Detalhe: gráficos da Amazon não contém os números de vendas, apenas a linha do gráfico indicando aumento. De fato, a Amazon não divulga nenhum número mesmo…
Paulo Coelho em espanhol, português e francês vende “milhares de cópias”.
Santillana vendeu o dobro em Kindle books nos EUA do que eles venderam na espanha e na américa latina no mesmo período. 80% dos livros do catálogo tiveram vendas. Vendas de backlist na França, com a Amazon, representam 67% (conta 47% do mercado normal). Dados da Santillana não surpreenderam a Amazon.
Receita da Amazon para evitar a pirataria de livros: colocar à venda, e no mundo inteiro. Visão da Amazon para suas estratégias, hardware, conteúdo: começar pelo consumidor e fazer o caminho contrário, identificar o que as pessoas precisam antes.
Kobo tem atualmente 5 milhões de clientes.
Self-publishing (autores independentes) representam 7% das vendas de eBooks nos EUA, 8% na Ásia, 9% na América do Sul, 10% na Austrália e Europa, 14% na África.
Consumidores que compram eBooks self-published pagam em média até US$ 4,22 por livro. Aqueles leitores que compram apenas livros de editoras, pagam em média US$ 7,29 por eBook.
Nesta ordem, as principais categorias de livros vendidos são romances, eróticos, thrillers, mistério, ficção científica, clássicos, horror e fantasia.
A precificação dos livros permite ver algum padrão, especificamente nos EUA:
Porém, as editoras praticamente não fazem experiências com preços de eBooks. Quem faz isso são autores independentes.
A venda de eBooks em inglês para países cuja primeira língua não é inglês, aumentou muito de 2010 para 2011 (mais de 300%).
Atualmente a B&N conta com 25% do mercado americano. Objetivo atualmente é focar esforços em conquistar mais mercado nos EUA, antes de vender globalmente como a Amazon. Vice-presidente para eBooks reconhece o excelente trabalho da Amazon, mas acredita que uma das grandes vantagens da B&N na concorrência com o Kindle é a enorme rede de livrarias, com mais de 40.000 funcionários – capacitados para vender tanto livros digitais, quanto impressos. Papel da loja física evolui constantemente, mas continua sendo o foco principal das atenções da empresa.
Assim como no caso da Amazon, consumidores que possuem um Nook também consomem cerca de 3 vezes mais livros que os demais clientes (tanto em impressos, quanto digitais).
Atualmente tem o maior catálogo de língua espanhola, mais de 40 mil títulos, e encontraram no mercado americano uma grande demanda por livros nesta língua. Além de inglês e espanhol, também vendem livros em português, francês, italiano, alemão e russo.
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Bem, o que foi interessante no Publishers Launch foi mais ou menos isto. Tivemos algumas falas bastante fracas, outras muito curtas, como sempre acontece em eventos deste tipo, por isso não reproduzi aqui um relato minucioso de todas as atividades previstas originalmente. Mesmo assim, foi uma conferência de excelente nível.
eBooks e Análises do Mercado – Direto da Feira de Frankfurt