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ePub3, Um Novo Horizonte

04/01/2012
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Em 11 de outubro último, o IDPF – International Digital Publishing Forum anunciou a nova especificação do formato ePub. À primeira vista, não tenho dúvidas que esta revisão representa uma mudança profunda no que conhecemos como livro – não apenas o suporte, mas na forma de pensar e produzir cada conteúdo, bem como tudo que entendemos como eBook até hoje. Pode parecer um tanto radical, mas sabemos que o ePub2, na verdade, pouco acrescentou – ou quase nada – de interatividade nos eBooks. Durante toda sua existência a revisão 2.0 do ePub teve seu uso focado na reprodução pelo meio digital do tradicional conteúdo impresso – textos e imagens. Atividade que o mercado adotou pelo nome de conversão, apesar do termo ser depreciado por muitos profissionais da área (eu mesmo me incluo nesta lista. Fica aqui o registro).

Principais formatos do ePub3

Documentos
XHTML5
SVG

Fontes
Open Type
WOFF

Gráficos
.jpg
.png
.gif
.svg

Áudio – Vídeo (codecs)
.mp3
H.264
V8

Mas com esta introdução, parece que já estou aposentando a versão atual do ePub para dar inicio ao uso das novas possibilidades da versão 3. Muita calma nesta hora. Sabemos que esta transição não será simples, nem fácil e muito menos rápida. Ainda bem que o IDPF compartilha dessa ideia. Por isso, a nova especificação é clara quanto a esse tema e inclui novos mecanismos de fallback – conteúdo exibido quando o dispositivo não suporta determidada funcionalidade, como script ou vídeo. Neste caso, é inserido um texto ou imagem para ser utilizado no lugar desse recurso. E desta forma manter o “mínimo” de compatibilidade com dispositivos de leitura anteriores ao ePub3.

A expectativa agora com esta recomendação é que grandes empresas como Apple, Adobe, Sony, Google, entre outras, comecem a povoar o mercado com dispositivos de leitura e ferramentas capazes de tirar do papel as maravilhas que o ePub3 promete. Ao menos a Adobe já sinaliza a integração do ePub 3 com o nova versão do InDesign. Descubra neste artigo o que o InDesign CS6 traz de novo em relação ao ePub e ao Digital Publishing.

O ePub3 por dentro

Internamnte, o ePub mudou quase por completo, em especial sua estrutura e organização dos arquivos. Um grupo com mais de 150 participantes esteve reunido desde maio de 2010 para desenvolver esta revisão. A lista de tecnologias que envolve o ePub cresceu, e agora inclui, entre outras: XHTML5 , SVG (nativo) , CSS3 , WOFF e Javascript . Sendo maior que a soma dessas tecnologias separadas, uma boa definição para o ePub3 seria um container que transforma estas tecnologias em uma nova experiência de leitura. Semelhante ao W3C , as especificações intimidam pelo tamanho e quantidade de hyperlinks e referências. Mas deixo aqui um resumo sobre as novas especificações do ePub:

1 – ePub Publications 3.0

Arquivo XML utilizado no pacote de informações sobre o ePub: metadata (titulo, autor, idioma), listas dos elementos contidos no ePub, ordem de leitura, entre outros. Trata-se do antigo Content.opf com novas opçõs. Leia mais sobre o Publications.

2 – ePub Content Documents 3.0

Esta especificação substitui a antiga Open Publication Structure 2.0.1 na tarefa de descrever o perfil das principais tecnologias contidas no ePub – XHTML5, SVG 1.1 e CSS 3 – e utilizadas para formatar e estruturar o conteúdo. Nesta revisão, a navegação pela tag NAV, foi incluída no Content Documents em substituição ao NCX da antiga OPF – Open Publication Format. Contudo, o ePub3 continua a oferecer pleno suporte ao NCX, assegurando a navegação de eBooks em dispositivos compatíveis apenas com ePub2. Leia mais sobre o Content Documents .

3 – ePub Media Overlays 3.0

Este é o “irmão” mais novo das especificações do formato ePub. Sua sintaxe é baseada na especificação SMIL – Synchronized Multimedia Integration Language, e através de suas tags é possível associar texto e áudio na sequência de leitura. Veja um exemplo de Media Overlay neste artigo. Leia mais sobre o Media Overlay .

4 – ePub Open Container Format (OCF) 3.0

E por fim, o Open Container Format é responsável pelo empacotamento de todos as arquivos acima mencionados em um grande ZIP, chamado ePub. Essa especificação não sofreu significativas mudanças.Leia mais sobre o OCF.

HTML5_Badge

ePub e Web Standards

Nesta versão, o ePub incorpora de vez os padrões da web – HTML, CSS e Javascript. Mas é preciso muita cautela neste momento, pois além da incompatibilidade dos leitores com estes padrões, o próprio ePub3 possui caracteristicas que diferem da especificação do W3C/WHATWG*. Apesar de adotar a nova semântica (tags) do HMTL5, o ePub3 continua a fazer referência ao XML e XHTML, em especial na sintaxe. Por isso, a recomendação é manter a extensão .xhtml.

Na verdade, nosso cenário futuro prevê o uso das novas funcionalidades e tags do HTML5 (section, article, nav, aside, entre outras são suportadas e melhoram a escrita e entendimento do código), bem como a inclusão de alguns atribuitos dedicados ao ePub, como por exemplo o epub:type, responsável por tornar o ePub mais acessível, que possui valor apenas semântico e pode ser associado a qualquer elemento do HTML. O epub:type permite que os dispositos tenham mais informações sobre o conteúdo e, desta forma, podem oferecer uma melhor experiência de leitura. Assim, um único arquivo ePub3 atende às necessidades de distribuição de conteúdo acessível, uma vez que a marcação DTBook foi descontinuada nesta revisão.

A relação entre HTML e ePub está cada vez mais integrada e não poderia ser diferente, a natureza fluida do HTML atendeu como uma luva as necessidades do IDPF em produzir um formato aberto para publicações digitais dirigidas a diferentes formatos de tela. Apesar de a recomendação final do HTML5 estar prevista para 2014, o IDPF saiu na frente e já implantou os principais módulos deste padrão no ePub3, mas acredito que o futuro de cada formato tenha seu próprio caminho, com o HTML5 se fortalecendo para atender à produção e distribuição de conteúdo multi-plataforma para todo tipo de dispositivo, seja na forma de sites, web apps ou apps nativos. Outra boa noticia é a inclusão da linguagem MathML e o suporte a formulários do HTML, contudo esse último é opcional na atual recomendação do ePub3.

* W3C e WHATWG são as duas entidades que produzem as especificações sobre o HTML5. Sim, devido a conflitos internos, hoje, há duas especificações para o HMTL5.

ePub3 – novas possibilidades

A seguir, uma breve descrição de alguns novos recursos do ePub3:

HTML5_Multimedia

Multimídia

O uso de áudio e vídeo nem é tão novidade assim, em especial para os dispositivos da Apple. Com a chegada do InDesign CS5.5, ficou mais fácil incluir esses recursos no ePub direto no documento. A questão fica pela recomendação de 2 codecs de video – H.264 (já adotado pela Apple e também reconhecido no InDesign CS5.5) e V8 (desenvolvido pelo google com código aberto, podendo ser utilizado com qualquer formato. Sendo que o formato WebM foi desenvolvido exclusivamente para o codec V8). Essa divisão certamente irá retardar um pleno suporte ao vídeo em novos leitores. Vamos aguardar, pois este tema ainda está em discursão no IDPF. Quanto para o áudio, continua reinando o bom e velho MP3.

HTML5_Connectivity

Media Overlays

Este novo recurso permite a sincronização do texto com um arquivo de áudio, ou seja, o texto ganha destaque na tela conforme o andamento da narrativa. Através desta função, diferentes publicações serão beneficiadas permitindo, para começar, um maior nível de acessibilidade. Basta fazer a marcação das DIVs com texto em XHTML nos trechos de áudio. Media Overlays são transparentes em dispositivos que não oferecem suporte a essa tecnologia, ou seja, não interferem na leitura dos eBooks. Veja um exemplo de Media Overlay aqui.

HTML5_3D_Effects

Gráficos e Efeitos

Javascript é sem dúvida um dos recursos mais esperados para esta revisão. Aqui a atenção triplica, pois o suporte ao javascript é mínimo atualmente, e por isso o IDPF incluiu um novo objeto ao javascript – epubReadingSystem. Ele é capaz de identificar quais funcionalidades do ePub são suportadas por determinado dispositivo e assim permitir o uso de alertas ou fallbacks para otimizar a experiência de leitura. Situação bem semelhante ao ambiente dos navegadores. Em pouco tempo, teremos um modernizr para EPUB (javascript que informa a compatilidade dos navegadores com os novos recursos do HTML5, CSS3, entre outros.) O formato SVG recebe total atenção no ePub3. Agora arquivos SVG não precisam mais do HTML, podendo figurar nativamente dentro do ePub.

HTML5_Semantics

Acessibilidade

Este é um tema que recebeu profundas mudanças na estrutura do ePub. Buscando melhorar o suporte para funções de acessibilidade, o IDPF mudou radicalmentee a estrutura de navegação, ficando depreciado o padrão toc.ncx em troca da tag NAV, do HTML5. A especificação prevê o suporte ao NCX para atender leitores compativeis com ePub2, além de novos atributos como epub:type, que permitem uma semântica melhor estruturada, aumentendo a acessibilidade do formato.

HTML5_Styling

ePub Style Sheets

Finalmente o ePub chega à maturidade do CSS ganhando, inclusive, o uso de prefixo -epub para casos mais específicos, como a formatação de textos listadas abaixo:

  • -epub-hyphens
  • -epub-line-break
  • -epub-text-align-last
  • -epub-text-emphasis
  • -epub-text-emphasis-color
  • -epub-text-emphasis-style
  • -epub-word-break

Como explicado no caso do HTML5 e Javascript, quanto tempo teremos que esperar por dispositivos de leitura compatíveis com os principais recursos do CSS3 (multicoluna, web fonts, efeitos de canto, etc) ainda é uma dúvida. Mas se o seu público-alvo usa dispositivos Apple – iPad, iPhone –, então para você muitos dos novos recursos do ePub3 podem ser usados agora. A Apple oferece um excelente suporte aos novos padrões da web e, consequentimente, ao ePub3.

Novos rumos

A pergunta que fica é quando poderemos utilizar de forma segura e confiável essas novas funcionalidades? Sinceramente é difícil fazer uma previsão, pois fora do ambiente Apple muitos desses recursos ainda são uma promessa. O momento é propício para este fortalecimento do ePub, visto toda movimentação do mercado editorial com o Digital Publishing para tablet. Acredito que agora o formato ePub ganhou músculos para se firmar como uma opção real, e oferecer uma nova experência de leitura através dos dispositivos móveis. Outro ponto importante é entender quais recursos do ePub3 agregam “real” valor ao seu conteúdo e são relevantes para o seu público. Este artigo é um breve resumo das potencialidades desta revisão, visite idpf.org e conheça a lista completa.

Sem dúvida, vão surgir novos modelos de negócios e empresas – editoras digitais – que pensarão em como adicionar “extras” ao conteúdo original, porque qualquer produto editorial – livro, revista, jornal – de texto puro será cada vez menos aceito pelas novas gerações. Pra concluir: desde 1450, com a invenção da prensa por Gutemberg, a indústria editorial e gráfica evoluiu (e muito) com base no mesmo suporte – o papel. Hoje, cerca de 560 anos de depois, vivenciamos os primeiros passos de novos suportes capazes de competir com o papel – tablets e eReaders. Não é o fim, trata-se de um novo começo.

 

  1. “inclui novos mecanismos de fallback”
    Em linguagens administradas pela W3C sempre é observado isso. É o caso do XML, HTML, CSS ou SVG.

    Na parte “Media Overlays”, o correto seria demarcar P para parágrafos, ou SPAN para trechos menores. E não DIV como proposto por você. Quebraria a semântica.

    Excelente texto

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