Nos países com alto índice de consumo de tecnologia, falar em internet 2G é como falar sobre barcos a vapor. E todo o buzz das notícias de gadgets orbita em torno de smartphones e tablets com recursos cada vez mais sofisticados. No mundo dos livros digitais não é muito diferente.
No entanto, celulares mainstream, com apenas alguns recursos a mais do que fazer ligações, são a principal interface de contato entre leitores e informação para uma imensa parcela da população mundial. Na verdade, pouquíssimas pessoas utilizam iPhones ou Galaxys, a despeito de toda a cobertura midiática – são 1,5 bilhão de smartphones entre 6,4 bilhões de celulares. E a Worldreader, organização sem fins lucrativos, quer utilizar essas “velhas” tecnologias para levar leitura e educação para as regiões mais pobres da África e Ásia.
Ler eBooks em smartphones e celulares é um comportamento que se consolida entre consumidores, derrubando o mito de que apenas tablets e eReaders são os dispositivos ideais para tal finalidade. Um estudo do Pew Internet Research Center divulgado em 2012 mostrou que norte-americanos costumam ler livros digitais em smartphones frequentemente durante intervalos comerciais na TV.
A organização já entregou 10 mil aparelhos Kindle, e está dando andamento ao próximo projeto: disponibilizar 1,4 mil eBooks gratuitos que podem ser acessados por uma rede 2G no aplicativo da Worldreader. A maioria dos títulos são de domínio público ou estão sob uma licença Creative Commons.
Apesar de trazer alguns títulos clássicos da literatura anglo-americana (o que poderia ser caracterizado como um “colonialismo cultural” disfarçado), o projeto também irá levar eBooks de escritores africanos e hindus. Os países que estão recebendo o projeto-piloto são Nigéria, Índia, Etiópia e Zimbábue.
Na África, estima-se que existam apenas 15 milhões de smartphones entre 500 milhões de celulares. De acordo com uma projeção da Wireless Intelligence, até 2016, 75% da região subsaariana terá acesso a internet 2G.
E se engana quem acredita que uma tela pequena é insuficiente para ler eBooks. Apesar de a maioria dos leitores do aplicativo Worldreader serem jovens do sexo masculino, as mulheres são as mais ativas, preferindo romances e consumindo 200 horas de leitura por mês. Outro público potencial são as crianças: um terço dos usuários dizem que gostariam de materiais de leitura infantis. Esse mesmo terço leem para as crianças as histórias nas telas dos smartphones.
Com informações do Mashable
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Muito interessante a matéria. Ficamos a pensar qual o tipo de tecnologia levará a maior porção de cultura aos povos menos favorecidos do planeta. Ler é importante, mas qual cultura será disseminada também é. O mercado digital é complexo. Alguém lembra do VideoDisc, o antecessor do CD? Vou “chutar”, mas acredito que uma porção considerável da população mundial menos favorecida nunca teve acesso a nenhuma nem outra tecnologia. Mesmo entre nós, com o advento do MP3 e das memórias sólidas, o CD já entrou em extinção, creio eu. Se não vivenciarmos algum tipo de tecnologia, isso não é tão relevante. Eu próprio nunca vivenciei os gravadores com rolos nem a era das fitas Betamax. Em compensação, paguei uma fortuna por um computador 486. Desde então, jurei ser mais equilibrado e pagar até uma certa quantia por tecnologias cuja vida tecnológica é duvidosa. Portanto, se um Kobo custasse (ou custar) mais que R$500,00, ele ficaria na prateleira da livraria… Se o Faraó lia em papiro… grande coisa aquela tecnologia. Não acham que publicar um livro em papiro está meio fora de moda ultimamente?